Wellington Duarte

06/02/2024 09h43

 

O tragicômico liberalismo potiguar

 

A Terra de Poti é realmente um caso a ser estudado. Todos os políticos da “velha guarda” se dizem liberais, quando não conservadores. Toda uma “nova geração” de políticos, saídos dessa “velha guarda”, se dizem “libertários”, evocam a liberdade diante da “opressão” do Estado. Querem, dizem, mais mercado e menos governo. As associações de classe empresarial, FIERN e CDL, vivem cantarolando loas ao liberalismo.

Na verdade esse “liberalismo” é um discurso trambiqueiro e isso não é novo aqui na taba. Desde a Proclamação da República por aqui, quando monarquistas viraram republicanos e passaram quase quatros se engalfinhando pelo poder, que os “liberais” se apossam do aparelho do setor público. Os Maranhão, que controlaram esse estado por quase 22 anos, fizeram do aparelho público sua “empresa” e introduziram o nepotismo descarado e a troca de favores, utilizando recursos públicos, para ter o poder nas mãos.

As pequenas oligarquias do algodão, que vieram a seguir, fizeram a mesmíssima coisa. Dominaram o aparelho do estado e se moveram a partir dessa apropriação, e isso durou várias décadas, só sendo ultrapassada quando da ascensão dos militares, quando o aparelhamento do setor público se tornou “institucional” e nas décadas seguintes as brigas, que envolviam basicamente as famílias Alves e Maia, ladeada por seus pequenos satélites.

E o que mudou? Por acaso os bolsonaristas nascidos do processo eleitoral de 2018, que elegeu um fascista truculento e botocudo, seriam algo diferente? Seriam o novo? Claro que não! Essa nova leva de reacionários foi ajudado pelas velhas lideranças políticas e quando perderam as eleições presidenciais de 2022, esses reacionários se incorporaram aos grupos “liberais” daqui.

Os nossos “liberais” são um engodo histórico. Querem algo que pode parecer, no mínimo, estranho. Querem o governo longe do “mercado”, mas querem “ajuda”, na forma de subsídios; querem sangrar os recursos públicos, manietando o orçamento, mas exigem gastos em infraestrutura, principalmente se for para facilitar a diminuição dos seus custos; são totalmente defensores do privado, mas querem bons serviços públicos, principalmente no interior, onde sem a participação de recursos públicos, muitos municípios simplesmente não teriam condições de existir.

E como já estamos em ano eleitoral, os discursos trambiqueiros já começaram. Os “protetores do povo”, que defendem as medidas contra os trabalhadores, já estão afiando as línguas. Mentem descaradamente. Mas serão vistos visitando seus cabos eleitorais. Farão promessas estúpidas, tais como “defender a educação e a saúde”, quando apoiam o encolhimento orçamentário dos governos; tomarão cafezinho, rodeados por sua claque modorrenta; sorverão cachaça como se fosse água e abraçarão os pobres, ao mesmo tempo que restringem a esfera pública.

É tanta canalhice que seria fácil identificar essa pilantragem política. Mas ela é encoberta por décadas de dominação; por manipulação desavergonhada dos meios de comunicação; pela corrupção institucionalizada, que beneficia esses vestais de araque.

O RN, que padece de políticos progressistas, prepara-se para mais um ano de mentiras e engodos e muito provavelmente veremos os mesmos prefeitos e vereadores, que são acolhidos pelos reacionários de plantão, serem eleitos.

Tudo muda para não mudar parece uma maldição que está na Terra de Poti.


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