Wellington Duarte

31/10/2023 08h18

 

Fátima Bezerra e Sísifo: estranhas convergências na terra dos coronéis

 

Fazer um governo progressista, eu não falo nem de “esquerda”, num estado dominado pela lógica da política de grupos e onde a economia é absolutamente dependente das ações de governo, é uma tarefa colossal, talvez igual a tarefa de Sísifo.

As eleições de 2022, longe de terem sido marcadas pelo progressismo, basicamente cercou a governadora. No Senado, onde se debate as questões ligadas aos interesses do RN, o eleito foi o furibundo Rogério Marinho, cujo ódio ao PT já virou patologia; e lá está o “parrudão” Styvenson Valentim, muito a vontade entre os reacionários. Na Câmara de Deputados, embora tenha conseguido eleger Natália Bonavides, da ala esquerda do PT, e Fernando Mineiro, as outras seis cadeiras ficaram com as forças mais a direita, dentre eles o Girão, apoiador da tentativa de Golpe em 8 de janeiro e o tal de Gonçalves, um obscuro deputado saído, como Girão das hostes militares.

No caso da Assembleia Legislativa, onde a história do RN é mostrada através da sua representação naquela casa legislativa, quem dá as cartas é o PSDB, um partido moribundo em nível nacional, mas que aqui reúne a fina flor da política tradicional e da nova onda reacionária, enquanto a “base” da governadora é tão consistente quanto uma geleia, ou seja, cada ação do governo requer um esforço hercúleo para obter algum sucesso.

Fátima é um bólido, disso não tenho dúvidas, mas seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT), não tem a força eleitoral necessária para torná-la forte o suficiente para ter um governo minimamente estável.

O exemplo mais recente é a questão do ICMS, que até as pedras sabem ser o suporte dos estados e no RN, que simplesmente perdeu a Petrobrás, receitas geradas no seu território são fundamentais para a manutenção da máquina, que os deputados estaduais adoram, desde que esteja à sua disposição.

Mas, qual é o problema? Esses deputados colocam dificuldades para a aprovação da manutenção da alíquota de 20% do ICMS, que é, na verdade, uma compensação do impacto do corte de cima para baixo, das cobranças do tributo sobre os combustíveis imposta pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) nas vésperas das eleições do ano passado. Disso os deputados que estão criticando o governo, silenciam.

Assim como o vento, as posições dos deputados estaduais, mudam de acordo com diversos interesses, que eles chamam de “interesses do RN”, o que deveria deixar claro para o eleitor que vota nessas criaturas, que o “programa do deputado” é o que interessa para ele. Se assim não fosse, a dança das cadeiras não existiria.

A presidência da Assembleia Legislativa é, na realidade, um grande contraponto ao peso do governo e seus presidentes sabem disso. Robinson Faria (2003-2010) e Ricardo Motta (2011-2015) são exemplos disso. E Ezequiel, presidente desde 2016, um representante da velha política dos “coroneletes”, tem enorme poder de persuasão, quando se trata de negociar com o governo.

Fátima é, sem dúvida, a maior liderança política deste estado, rivalizando com Agripino Maia, Garibaldi Filho, Aluísio Alves e o próprio Dinarte Mariz, fruto da sua resiliência e capacidade de construir em meio a destruição e de ter uma veia política determinante para governar em águas agitadas. Mas isso tem seu preço.

Ser progressista no RN, que não necessariamente significa ser de esquerda, precisa se confrontar com a história e o resultado desse confronto é indeterminado, ou seja, um governo progressista no RN tem uma tarefa histórica de romper com os grilhões do passado, tendo que negociar com o passado.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR.


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