Wellington Duarte

23/01/2024 06h10

 

Eleições de 2024 em Natal: mudar para não mudar ou mudar para mudar?

 

Primeiro quero colocar que em época eleitoral, e parece que no Brasil, a “época eleitoral” começa no dia em que termina uma eleição e vai até o dia em que começa a eleição seguinte, a gestão pública é transformada num grande púlpito para os discursos mequetrefes, principalmente daqueles que pretendem eleger-se e cuja trajetória ou inexiste ou segue a trilha comum da mediocridade, que infelizmente é o caso da nossa taba.

Em Natal, uma cidade com pouco mais de 750 mil habitantes, bela para os ricos e os de classe média, que vivem nos seus pequenos feudos que chamamos de “condomínios fechados” e que se orgulham de serem “pessoas de sucesso”, uma frase oca e sem sentido; e os que vivem nos bairros mais periféricos e que convivem com a realidade do capitalismo, excluídos da distribuição da riqueza e vivendo sob a ausência do setor público, que só aparece quando precisa de votos, e a presença das igrejas neopentecostais, especialistas em construir  o “homus evangelicus”, uma pessoa que soma o desespero do dia a dia e o fundamentalismo que o sustenta, teremos uma eleição que dará chance a este cidade, provinciana ainda, de oferecer aos que precisam, um governo progressista.

Natal é uma cidade conservadora, isso já se sabe. Uma cidade sustentada pela administração pública, que gera uma classe média modorrenta; um comércio, de maioria pequena ou média, que gera trabalhadores e trabalhadoras, submetidas a um grau de exploração que esgota qualquer ser humano racional; e um setor de serviços, em que o indivíduo simplesmente vive para trabalhar e não espera nada de positivo no futuro. Natal tem seus “riquinhos”, muitos deles filhos de heranças, nunca souberam o que é trabalho e vivem de um passado que nos legou uma “classe” política medíocre, burra e venal.

Bom, agora, uma pretendente ao cargo de prefeito(a) vem de dentro de uma administração municipal conservadora e cujo gestor principal carrega todo o passado político do RN, o prefeito Álvaro Dias, cuja origem vem das velhas “famílias políticas” do Seridó, cuja “carreira política” chega aos 41 anos, portanto de novidade nada tem, já que foi deputado estadual (1991-2003/2007-11/2015-16), deputado federal (2003-07), vice-prefeito de Caicó (1989-90) e de Natal (2017-18), pululando no PMDB (1987-2003), PDT (2003-11), de volta ao MDB (2011-20), PSDB (2020-22) e no obscuro Republicanos desde então.

Álvaro Dias, como todo “bom político” do RN se mexe pelos seus interesses próprios, evidentemente lastreado pelo discurso de “tudo pelo povo” ou, quando precisa, “tudo pelo RN”. Recentemente alinhou-se aos devaneios do fascismo bolsonarista, mas com um olho no gato e outro peixe, já que nunca levantou o “fascio” e sempre justificou esse posicionamento em nome da governabilidade. É o chamo de “pragmatismo oportunista”. De qualquer forma Álvaro conseguiu ser aceito pelos natalenses, tanto é que recebeu 56,6% dos votos do eleitorado potiguar, numa coalizão que uniu a velha direita oportunista (PSDB/DEM/MDB), os “pragmáticos de sempre” (PDT/PSD), os “nanicos reacionários” (Republicanos, Rede e Avante) e a nova “estrela” fascista (PL). Apoiado pelo ex-prefeito Carlos Eduardo, digno representante do “camaleonismo emedebista”, inaugurado pelo saudoso Aluízio Alves, Álvaro, de forma competente, “engoliu” o segmento progressista, cujo candidato, senador Jean-Paul Prattes, do PT, teve 14,4% dos votos, um pouco acima de um verdadeiro representante do fascismo local, o tal “delegado” Leocádio, que teve 10,2% dos votos.

Bem, voltemos ao presente. Quem se apresenta agora é a jovem Joanna Guerra, secretária de Planejamento, de uma cidade em que planejamento chega a ser uma piada, e não por culpa dela, registre-se, e que, do nada, foi alçada à secretaria-geral do Republicanos, esse obscuro braço da Igreja Universal do Reino de Deus, a IURD, que já foi Partido Municipalista Renovador, PMR (2005-06) e Partido Republicano Brasileiro (2006-19). Nunca ouviu falar? Não se preocupe, o Republicanos é uma LEGENDA e não um partido clássico.

Joanna, saiu dos cargos técnicos para a primeira fileira da luta política e o seu “padrinho político”, costurou e costura aproximações com as velhas máquinas, como o do PSB local, comandada pelo jovem progressista (?) Rafael Motta, que muitos dizem querer ser candidato, além das idas e vindas com o esperto Paulinho Freire, que soma apoios para se lança também. E a jovem Joanna já demonstrou que segue, à risca, o velho corolário da política local: construir verdades. Sim, numa entrevista recente, dada a um programa de rádio, cuja emissora pertence ao campo mais reacionário da política brasileira, conhecida como “fábrica de Fake News”, disparou contra a candidata do PT, a também jovem Natália Bonavides, cuja história é bem mais recheada do que a apadrinhada do prefeito de Natal.

A jovem Joanna acusou Natália de defender “a invasão da propriedade privada”, coisa que obviamente ela (Joanna) não defende, como disse na entrevista, o que demonstra que ela não deve ter lido a Constituição da República, que no inciso XXIII, do artigo 5° diz expressamente que a propriedade deve cumprir sua “função social”. Resta saber se a “quase candidata” lembra o que é função social. Aliás, jovem Joanna, tem uma Lei, a 4.504, de 30 de novembro de 1964, já sob a DITADURA, que, no seus artigos 12 e 13, definem claramente a função social da propriedade. Até onde sei, essa Lei não caducou. Talvez tenha sido e eu não saiba.

A jovem Joanna, que é da sucursal da IURD, colocou, obviamente, a pauta dos costumes, para que as camadas mais envenenadas pelo fundamentalismo religioso e pelos que gostariam muito que os preceitos penais da Idade Média vigorassem, menos para eles é claro, engulam esse discurso vazio, mas cheio de preconceito. Joanna segue a cartilha da velha e mofada política do RN. Ataca para jogar uma cortina de fumaça, para não tocar nos reais problemas que acometem a comunidade potiguar.

O circo eleitoral parece ter começado, afinal.

 


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