Wellington Duarte

03/07/2021 01h16
 
 
As revelações do governador do Rio Grande do Sul e o país das contradições
 
 
O fantástico é o país chamado BraZil, onde evangélicos adotaram um Diabo de estimação e 29% da comunidade LGBTQI+ votou naquele que as quer exterminar. Cerca de 67% dos brasileiros aceitam a homossexualidade, que até pouco tempo as Igrejas consideravam ou doença ou possessão ou pecado infernal, e a Igreja Católica tinha entre muitos dos seus padres, pederastas e fornicadores. Porém é nesse país que mais mata travestis no mundo e onde as agressões às lésbicas vem se naturalizando, que o surrealismo prevalece
 
O próprio governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) se posicionou como gay, mas para justificar, quem sabe, seu voto no homofóbico, veio com a singela frase “sou governador gay, mas não sou gay governador”, que logo dominou as redes sociais, espaço onde flutuam especialistas de quase tudo e onde reina a ignorância e a imbecilidade. Nestas redes estabeleceu-se o “debate” sobre a frase do governador, as razões da frase, a revelação e as consequências dela.
 
Ora, Eduardo Leite, pertence a um partido (PSDB) que desencadeou o processo que culminou no Golpe de 2016, e que hoje é marcadamente conservador, foi buscar votos na extrema-direita que é homofóbica e tem que “prestar contas” sempre que pode. Seu ato, talvez bem pensado, é importante para colocar o debate num patamar mais adequado, ou seja, que saia da esquerda e seja transversal dentro da sociedade, expurgando a caterva obscurantista, que Eduardo pretende, pelo que parece, domar, afinal ele se apresenta como presidenciável do “centro”.
 
Leite teve a coragem de sair do “armário”, denominação pejorativa que se referia àqueles que, por medo de ser rejeitado socialmente, escondiam suas identidades e talvez tenha receio dos pastores que andam com a Bíblia debaixo do sovaco, pregando a famigerada “cura gay”. Mas essa coragem pode ter um cálculo político, o que não desqualifica o ato em si.
 
Mas, como um gay vota em Bolsonaro e apoia a política de Guedes, aquele que trabalha dia e noite, para reduzir o ser humano a um cálculo fiscal e, por conseguinte, sem direitos? Como isso pode ser possível? Lembremos que um dos grupos que injetaram grana nos bolsos dos nazistas, para exterminar os comunistas, foram os banqueiros judeus, que viram seu povo ser morto aos milhões através da “solução final”.
 
O vice-governador do RS, também secretário de Segurança Pública, Ranolfo Júnior, veio em socorro de Leite e relativizou o voto no genocida, chamando de “voto crítico”, algo bem conhecido nas esquerdas, quando são obrigadas, por necessidade, a apoiar uma candidatura mais centrista ou até de direita, mas que não cabe, de forma alguma, no voto de Leite. Bolsonaro sempre foi homofóbico e extremista e o seu adversário, Fernando Haddad, não pode ser comparado ao Mandrião, nem aqui e nem em outra dimensão.
Leite coloca, porém, uma discussão que precisa ser feita. As pautas identitárias parecem ter sido apropriadas pela Esquerda, especialmente a “new” esquerda, que jogou para debaixo do tapete a luta de classes, como se essa fosse secundária quando confrontadas com as pautas das identidades. Mas a comunidade LGBTQI+ não é homogênea e basta ver os votos das candidaturas desse campo nas últimas eleições, para perceber que estão muito longe dos interesses dos eleitores. 
 
Leite ficou calado quando Bolsonaro e sua caterva, espalharam o “kit gay” e a “mamadeira de piroca” e isso, a meu ver, o tornou responsável, também, pela disseminação do ódio, que agora se revela na iniquidade desse governo no combate à pandemia. Aliás ele declarou seu voto “por convicção”, secundarizando o passado do Mandrião, o que revela traços de oportunismo político essa declaração do governador, que na verdade era um segredo de polichinelo.
 
Não há como apagar a história. Em breve veremos a repercussão dessa boa, não sei se corajosa, atitude do governador.
 
Que comecem os jogos!
 

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