Tiago Rebolo

14/11/2014 11h30

Que os problemas do Rio Grande do Norte são muitos e complexos, não restam dúvidas. A oferta de serviços básicos é ineficiente e faz tempo que os gestores perderam a confiança da população. Para completar o triste quadro, as contas não batem. Já não há pudor de soltar a singela justificativa de que “não há dinheiro em caixa”. Outro fator que sempre emperrou o desenvolvimento do estado consiste na falta de diálogo entre as três esferas do Poder Público.

Neste quesito, a população potiguar espera que, ao menos pelos próximos dois anos, a situação mude de figura. Isso porque a conjuntura política produzida pelas urnas tende a favorecer o estado como um todo, da esfera municipal à federal.

A começar pelos municípios. As três maiores cidades do Rio Grande do Norte são administradas por prefeitos alinhados à gestão federal. Em Natal, Mossoró e Parnamirim, Carlos Eduardo (PDT), Francisco Silveira Júnior (PSD) e Maurício Marques (PDT) foram cabos eleitorais tenazes da presidente Dilma Rousseff (PT) na jornada da reeleição. O resultado foi vitória petista nestas cidades e nas outras 164 localidades potiguares.

Quando trata-se da esfera estadual, situação análoga se configurou. Apesar de Dilma ter tido dois palanques no estado, foi o governador eleito Robinson Faria (PSD) que contou com o apoio PT local. Isso sem falar do explícito apoio que o ex-presidente Lula deu a Robinson durante a campanha. Em troca, o presidente estadual do PSD recomendou o voto casado em si próprio e em Dilma.

Tal ajuda mútua deve garantir a “abertura das torneiras” e muitas idas de Robinson a Brasília. O primeiro encontro oficial, inclusive, deve acontecer já na primeira semana de dezembro, quando o governador eleito tem uma audiência marcada com a presidente Dilma e com a atual ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Na pauta, claro, estará o diagnóstico aprontado pela equipe de transição do governo estadual e a solicitação de algumas demandas ao Planalto.

No Congresso, o estado do Rio Grande do Norte também não tem muito a perder. Entre os deputados federais eleitos, dois são declaradamente governistas – Fábio Faria (PSD) e Betinho Rosado Segundo (PP). A oposição deve ficar a cargo de Rogério Marinho (PSDB) e Felipe Maia (DEM). Os outros quatro eleitos devem ficar em situação de neutralidade, pendendo para o lado governista. São eles Walter Alves (PMDB), Zenaide Maia (PR), Antônio Jácome (PMN) e Rafael Motta (PROS).

No Senado, estará uma das principais aliadas de Robinson Faria, Fátima Bezerra (PT), o que deve garantir o bom diálogo. O senador Garibaldi Filho (PMDB), por sua vez, é ministro do Governo, enquanto só José Agripino (DEM) deve tecer críticas à gestão tanto de Robinson quanto de Dilma.

Além desses fatores, contará a favor de Robinson a característica não centralizadora que lhe é peculiar. Quando presidente da Assembleia Legislativa, o ex-deputado estadual era conhecido por dialogar bastante com os colegas parlamentares, os prefeitos municipais e o Governo do Estado.

Como se vê, os ventos políticos estão soprando a favor do Rio Grande do Norte. Caberá aos representantes eleitos não transformá-los em uma ventania devastadora. O estado precisa que as forças políticas atuem verdadeiramente em conjunto para solucionar os problemas que batem na porta de cada potiguar. Não há mais espaço para a prática política mesquinha de outrora. O voto foi casado; resta levar a teoria à prática.


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