Kalina Paiva

08/03/2024 09h07

 

Sobre flores, chocolate e luta

 

Mulheres adoram receber flores (em vida!), chocolates e mensagens fofas também. Então, sintam-se à vontade para expressar gestos carinhosos no Dia Internacional da Mulher, criado para trazer à memória a luta das mulheres. Está aberta a temporada de entrega de mensagens fofas, mas acredito que sua mãe gostará ainda mais se você puder lavar a sua louça, depois que ela deixou a cozinha limpa. É algo muito bom para incluir no pacote dos presentes: partilhar o trabalho doméstico.

Enquanto vocês distribuem flores, mimos, vim aqui exercer meu papel de escritora, porém serei coerente com a razão dessa comemoração de hoje. Não vim romantizar o Dia Internacional da Mulher até porque, no imaginário coletivo, a origem dessa data está associada à morte de mulheres operárias em consequência à reivindicação por melhores condições de trabalho.

Antes do incêndio, ocorrido na fábrica em 25 de março de 1911, o Dia havia sido proposto um ano antes na Dinamarca, em um evento que reuniu mulheres socialistas de todo o mundo. A motivação para a criação da data não se resume apenas ao episódio trágico que carbonizou as operárias norte-americanas em reivindicação por melhores condições de trabalho. Há uma série de eventos históricos que contribuiu para isso, pois a mulherada estava em ebulição nas lutas por igualdade salarial. Elas estavam organizadas politicamente na Rússia, nos Estados Unidos e em países europeus no início do século 20.

Com ou sem fogo, se refletirmos bem, a História se repete quando traz à memória o caça às bruxas que, até hoje, se faz presente sempre que uma mulher é queimada, seja em sentido literal, psicológico, patrimonial ou mesmo político.

E como sou uma mulher, vivendo no Rio Grande do Norte do século XXI, fico pensando o que a Simone de Beauvoir diria ao ver mulheres ocupando o parlamento e cargos em secretarias.

Lá no século XIX, ela mencionava que só mudaríamos o status quo, se ocupássemos os espaços públicos.

Hoje, já ocupando esses espaços, ainda sentimos nas têmporas o calor da fogueira medieval. Para exemplificar isso, vou trazer uma situação ocorrida com a Secretária de Educação de São Gonçalo do Amarante/RN, Maria Marluce de Paula Araújo.

Na semana do Dia Internacional da Mulher, a gestora foi alvo de um blogueiro que não só tentou desacreditar seu trabalho como criou uma fake News nas redes, sugerindo que a gestora não teria boas relações com o prefeito.

Em ano de eleição, esse tipo de ataque ocorre com mais frequência, quando pessoas aliadas à oposição usam a mídia como instrumento para desgastar a imagem de pessoas que, de fato, trabalham. Essa “receita” é antiga.

Diante dessa violência psicológica do Blog para com a Secretária de Educação de São Gonçalo do Amarante/RN, o Mulherio das Letras Nísia Floresta prestou solidariedade nesta manhã de sexta.

Se eu fosse listar os nomes de mulheres parlamentares que sofreram violência no exercício de suas profissões, a lista seria vasta.

A vereadora Ana Paula (PL/RN) que teve a fala interrompida por um parlamentar; a deputada Divaneide Basílio (PT/RN), alvo de falas misóginas são dois nomes que destaco aqui também.

Quando as mulheres se referem ao 08 de março como um dia de luta, estão bradando em alto e bom som que essa luta é constante.

Se você é uma pessoa não-mulher e está lendo esse texto, comece sendo solidário com a luta que sua mãe, irmã, tia ou avó travam dentro de fora de casa.

Se você for mulher, desejo um feliz dia de sororidade e muita articulação política, seja ela partidária ou não porque bem sabemos que não existe trégua, quando nos tornamos mulheres.

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).