Kalina Paiva

23/02/2024 08h45

 

Cânticos para a eternidade

 

“O teu canto, meu amigo,

É um punhal de fina seda...

de organza... de voil...

Retalhando, mansamente,

O meu mar interior...

as areias... os corais...”

Foi numa pressa de viver e abrindo o flanco das horas que Kalliane Amorim nos legou sua poesia. Professora do Instituto Federal do município de Apodi e escritora, ela foi um ser luminoso. Nascida entre a Chapada do Apodi e o Planalto da Borborema, na Umarizal/RN dos festejos juninos, em 14 de junho de 1982, essa poeta de versos místicos revisitou o cotidiano, convidando-nos a experienciar as coisas simples da vida e os sentimentos que nos movem.

Os exatos 41 anos de vida que passou conosco - na maior parte em Mossoró - foi suficiente para ela nos deixar um legado: Outonos (2003), Exercício de Silêncio (2007), Relicário (2015), Peregrina (2020) - os dois últimos estão disponíveis para venda no site da Editora Sarau das Letras.

Seu livro Peregrina, que será debatido neste sábado (24), às 15h, na Nobel do Praia Shopping, pelo Clube de Leitura Elas por Elas do Mulherio das Letras Nísia Floresta, traz a mística do viver, do morrer e do amar. Não exatamente nessa ordem. Ler essa obra é aceitar um convite à contemplação da beleza da vida, à valorização do silêncio para percebermos a essência das coisas, já que o barulho da contemporaneidade e seu cotidiano frenético turvam a nossa percepção.

A consciência lúcida sobre os desafios do viver é-nos oferecida por ela no poema Travessia, cujos versos partilho agora:

“Eu, que não sabia

quantos tons em mim havia,

tive o peito à força aberto...

Houve uma ventania,

vinda de algum deserto:

seu flagelo desenfreado

açoitou todas as portas,

fraturou as tantas janelas,

desossou as estruturas

de minha única moradia.

Ser peregrino implica atravessar desertos, cientes de que tempestades de areia podem acontecer a qualquer momento. Andamos sobre a terra e, muitas vezes, não nos damos conta que, um dia, também seremos pó. Por mais que um viajante planeje a viagem, não possui o controle do devir. Há feras que nos espreitam, escondidas em suas tocas. Há sede e fome como todas as necessidades físicas que nos lembram da nossa humanidade e fragilidade. Há dores e cansaços. Em meio a tudo isso, também nos banhamos em rios e encontramos um ou alguns Oásis.

A escrita da poeta umarizalense, entre tantas valiosas reflexões que potencializa, deixa um ensinamento aos amantes da escrita: quando escrevemos, revelamos nosso desejo de tornar eterno o nosso canto peregrino, já que, um dia, todos faremos a travessia, por isso sua poética pega a nossa mão

Assim como a alma do poeta Virgílio pega Dante pela mão, conduzindo-o até a alma de Beatriz – atravessando o Inferno, o Purgatório até chegar ao Paraíso - Kalliane Amorim nos conduz pelo caminho da percepção do mundo pela lente da poesia.

O encontro do clube é aberto ao público.

EVENTO: Encontro do Clube de Leitura do Mulherio Nísia

LOCAL: Livraria Nobel do Praia Shopping.

DATA/HORÁRIO: 24/02/2024 (Sábado), às 15h.

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Sobre a autora:

Kalina Paiva, professora, pesquisadora, escritora e produtora cultural.

Natural de Natal-RN, é professora do IFRN, pesquisadora em Literatura Comparada e mídias e escritora de poesia e contos. Líder do Núcleo de Pesquisa em Ensino, Linguagens, Literatura e Mídias (NUPELLM) do IFRN e membro do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-rio-grandenses. Membro da União Brasileira dos Escritores - Seção Rio Grande do Norte (UBE/RN) onde atua como Diretora de Comunicação (Gestão 2024 – 2026), da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN (SPVA), do Mulherio das Letras Nísia Floresta, e da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares (ALAMP); Coordenadora de Letras e Literatura do Movimenta Mulheres RN.


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