Kalina Paiva

02/12/2023 11h14

 

Um dia para chamar de nosso

 

Ontem (01/12), a Assembleia Legislativa do RN homenageou escritores(as), editores, livreiros e sebistas, pessoas que fazem acontecer no universo literário local na solenidade alusiva ao Dia da Literatura Potiguar. Tive a honra de estar lá, vivenciando, partilhando da alegria com pessoas queridas cujo trabalho admiro e discursando em nomes dos homenageados.

A data foi idealizada pela escritora e imortal da Academia Macauense de Letras Michelle Paulista e instituída através da Lei Estadual nº 10.622, de 5 de novembro de 2019. Para quem não sabe o motivo da escolha, 9 de julho é a data de nascimento dos escritores macauenses Gilberto Avelino e Veríssimo de Melo.

A seguir, compartilho com vocês, leitores e leitoras, o discurso “Um dia para chamar de nosso”, proferido na tribuna, durante a solenidade....

Minha fala nesta tribuna se coaduna com a alegria de termos um dia para chamar de nosso. Fisicamente, habitamos um espaço. Mas sentimentalmente somos habitados por memórias. Neste dia tão único do ano, somos também testemunhas das vozes que nos antecederam e cantaram a nossa terra ainda no período de formação da nossa literatura, como Nísia Floresta, Lourival Açucena, Auta de Souza. Esses escritores passaram um legado como uma tocha para o período seguinte, o de transição, no qual fomos embalados pelos versos de Palmyra Wanderley, Gothardo Neto, Afonso Bezerra e Othoniel Menezes. Depois, essa mesma tocha, carregada de talento individual, foi transportada para o período modernista, quando vimos Jorge Fernandes romper com a tradição, quando vimos Helen Ingersoll, em Mossoró, ser a primeira a escrever poesia tocada pelo erotismo e Zila Mamede cantar o mar de uma forma única. Agora, estamos aqui, no período compreendido como vertente contemporânea, que foi iniciado pelas vozes da contracultura no final dos anos 60. Um dia, nosso legado também será passado como uma tocha para seguir iluminando e humanizando a nossa sociedade.

Estamos fazendo literatura em tempo real, expandindo-a para além dos limites do estado do RN, para além dos limites do país. Estamos vendo as vozes femininas, afro-indígenas e lgbts ganhando projeção em território nacional. Temos Eva Potiguara, nossa escritora indígena na final do Prêmio Jabuti de 2023; temos Bruna Dantas, romancista potiguar e primeira brasileira a ganhar o National Book Award na categoria Literatura Traduzida, prêmio mais importante dos EUA. Temos o Márcio Benjamin, uma voz na literatura de terror, projetando o universo sertanejo em âmbito nacional. Sim, senhoras e senhores, temos muito o que comemorar hoje, aqui e agora.

Há um público lá fora, esperando para ler nossos universos fabulados. Tornar esses mundos fabulados acessíveis aos leitores é uma tarefa que demanda apoio de políticas públicas. Já começamos um caminho para o fortalecimento da nossa literatura. Que sigamos juntos e firmes nessa tarefa, dialogando com os valores universais em nossas obras.

Deixo aqui o meu abraço de afeto a todas as Instituições que têm apoiado a nossa literatura em vários projetos, como por exemplo: a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN, o Mulherio das Letras Nísia Floresta, a União Brasileira de Escritores e todos aqueles que acreditam na força das letras e das artes.

...

Para acessar mais detalhes e ver os registros deste momento festivo para as Letras potiguares, acesse: http://www.al.rn.gov.br/noticia/30279/sessao-solene-no-legislativo-celebra-dia-estadual-da-literatura-potiguar
 

________________

Sobre mim:

Kalina Paiva, professora, pesquisadora, escritora e produtora cultural.

Natural de Natal-RN, é professora do IFRN, pesquisadora em Literatura Comparada e mídias e escritora de poesia e contos. Líder do Núcleo de Pesquisa em Ensino, Linguagens, Literatura e Mídias (NUPELLM) do IFRN e membro do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-rio-grandenses. Membro da União Brasileira dos Escritores - Seção Rio Grande do Norte (UBE/RN), da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN (SPVA), do Mulherio das Letras Nísia Floresta, e da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares (ALAMP); Coordenadora de Letras e Literatura do Movimenta Mulheres RN.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).