Emanuela Sousa

01/11/2020 14h19
 
"Tempos turbulentos para os sensíveis" 
 
 
Fechei as janelas do apartamento, o vento começou a bater forte no sexto andar. Um desejo na alma. Saí cantando por todos os cômodos, a esperança queria ser renovada aqui dentro. Há quanto tempo não saio cantando e ouvindo minha própria voz? Já faz muito tempo...
 
Na terça ganhei uma pilha de livros de presente, alguns romances e outros de filosofia mas ainda estou indecisa por onde começo... Meus olhos brilharam na obra de Jane Austen ("Razão e sensibilidade") , folheei com carinho as páginas, ri comigo mesma por ter sorte e de como é engraçado perceber que as pessoas próximas a mim, sabem o quão sensível eu sou. 
 
Você deve estar pensando aí do outro lado "mas ser sensível é ruim né? Os sensíveis sofrem mais".  A resposta é sim. Sofremos muito mais, os golpes doem mais em nossa pele, somos um tipo de esponja, que absorvemos em execesso as coisas do mundo mundano, demoramos tempo para curar feridas, porém quando chegamos no ápice da felicidade, a sentimos com mais intensidade do que os outros, alcançamos a plenitude, contamos com todas as estrelas da constelação.
 
Os outros, vivem... Com suas limitações, pés no chão, pouco raso, quase que invísivel, mas vivem. Um conceito estranho, que eles adotaram por questões que só estes mesmos podem responder.
 
Entenda o quão dificil é ser sensível em tempos caóticos como estes, quando vemos o pouco de paz que habita no peito indo embora todos os dias, aos pouco... Dói sentir tudo e ao mesmo tempo nada, dói ser imensidão e não poder caber em lugar nenhum.
 
Já não caibo mais em mim, às vezes é pesado, parece que vou explodir para todos os lados.  O mundo é veloz e cruel, nos devora, o tempo nos engole  e não há uma saída certa para isso.
 
Como faz para não sentir? 
 
Como faz para disfarçar o caos da alma? 
Se você souber, me explica. 
 
(Turbulências.)
 
Neste momento estou escrevendo enquanto a chuva lá fora lava a cidade... E pensando bem, acho que estou precisando desse sair um pouco do apartamento empoeirado, de parar de andar em circulos, preciso me despedir da ansiedade como companhia...
 
Abandonei o isolamento há um bom tempo, mas desde então não fiz nenhuma viagem. Acho que preciso pegar a estrada e sumir para outros horizonte. Meu corpo dói, a cabeça lateja, este cansaço não é apenas fisico e sim mental, ando absorvendo muita coisa nesses tempos, as tragédias, as injustiças, os desafetos do nosso dia a dia... Coisas do mundo que ando trazendo para dentro e jogando para debaixo do tapete para resolver depois... depois... E esse depois nunca chegou.
 
Eu já sei o que você pensa quando me olha. Me acha normal, mas não vê a tempestade que abrigo dentro de mim.(Só os sensíveis me entendem). Eu não sou como os outros, por favor me olhe com outros olhos. 
 
Sei que a chuva lá fora vai passar, o céu nublado uma hora passa. Tenho um compromisso com a chuva que me acontece aqui do lado de dentro, estou a esperando se dissipar, para voltar a viver e me recompôr. Os sensiveis sofrem, mas a vida os transforma. 
 
É tempo de transformação, restauração, tempo de se recolher para dentro de si, mudar as coisas de lugar, tirar o acúmulo que guardamos. Jogar fora o tóxico.
 
Sensibilidade nunca foi sinal de fraqueza, mas de cuidados... Tempos turbulentos, barulhos na alma para mim e para você que se perdem nesse abismo que é o sentir. 
 
Respire fundo, beba água, ame... Vai passar.
 
 
 

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