Bia Crispim

30/06/2023 08h35

 

Pra que tanto orgulho?

 

A maioria das pessoas LGBTQIAPN+ passou a vida toda recebendo olhares tortos, repressões, repreensões e proibições. Muitas viveram por anos dentro de “armários” com medo. Medo de rejeição, medo de violência, medo de exclusão e medo de abandono.

A maioria de nós bebeu diariamente uma dose de condenação... Condenações: disseram que éramos pessoas erradas, antinaturais, aberrações, endemoniadas, pecadoras; que seríamos expulsas de casa e do convívio saudável com as demais pessoas.

Fizeram-nos acreditar que éramos indesejadas, incapazes de sermos amadas; que éramos pessoas feias e que não seríamos aceitas ou acolhidas em lugar nenhum; que éramos párias e que o mundo nos odiaria.

Imaginem que durante anos, séculos até, nos trataram como pessoas doentes. Prometeram-nos curas. Cultivaram em nós uma ideia de que éramos escória; umas coitadas, incapazes de quase tudo; limitadas a certos espaços e atividades.

Desvalorizam-nos enquanto seres humanos. Roubaram nossa humanidade e nossa capacidade de sonhar e de crescer e conquistar tudo, como todo mundo. Invisibilizaram nossas existências em quase todos os espaços sociais comuns.

Mas apesar de toda essa avalanche de ódio, de todo esse tempo de anulações, repressões, condenações e invisibilidades, RESISTIMOS e continuamos EXISTINDO.

Resistimos, proliferamos, emponderamo-nos, saímos às ruas, demos a cara à tapa, enfrentamos, peitamos, fechamos e abrimos, pintamos o 7 e as avenidas das cidades, saímos do obscurantismo, passamos a nos conhecer e nos valorizar...

E nesse processo, entendemos que todo o discurso construído sobre nós não nos representava, não nos identificava, não nos  caracterizava... Ele apenas revelava o preconceito, o ódio, a incompreensão e a limitação de um mundo binário e, em muitos casos, infeliz.

Nesse processo, fomos nos descobrindo enquanto cidadãos, cidadãs e “cidadães”. Pessoas com deveres e direitos. Passamos a sentir e a propagar entre nós, LGBTQIAPN+, que não éramos o que os outros diziam que éramos e que tentaram nos empurrar goela a baixo.

NÃO! Não havia motivo pra nos envergonharmos de quem éramos, de quem somos, de quem amamos, de como amamos, de como nos vestimos, ou como falamos.

NÃO! Não havia motivo pra nos escondermos, nem pra nos entendermos como doentes ou primeiras candidatas ao inferno.

NÃO! A única coisa que deveria existir em nossas existências era o ORGULHO de sermos quem somos. Em toda nossa pluralidade e diversidade. Respeitando todas as nossas nuances e particularidades. Aprendendo a viver com todas as mulheridades, masculinidades e não-binaridades.

E aí, tem gente questionando pra que tanta comemoração em junho por conta do orgulho LGBTQIAPN+. Ora! Porque ao contrário de tudo o que passamos a vida ouvindo do mundo, descobrimos que não há motivo para vergonha alguma.

Pelo contrário, descobrimos o quanto somos fortes, resistentes, atrevidas, criativas, inteligentes, capazes, bonitas, únicas, sexies, encantadoras, potentes... Enfim...

Pra que tanto orgulho?

Porque quando nos orgulhamos de quem somos, derretemos todo ódio que recebemos durante uma vida, e sinalizamos para as próximas gerações que não há problema algum em ser LGBTQIAPN+. Não é anomalia ou pecado; não é antinatural, nem erro. Nós só somos e isso basta pra gente viver e morrer de ORGULHO.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).