Bia Crispim

12/05/2023 08h14

 

LOU(CURA)

 

A escrita sempre foi uma forma que encontrei para exorcizar meus problemas, medos e angústia, sempre foi espaço fértil para eu criar meus universos paralelos e mágicos, também a maneira que encontrei de expressar o que sinto e vivo, além de externar a maneira como me relaciono com o mundo e com as pessoas.

A coluna de hoje é uma crônica baseada em fatos reais. Quais fatos? Uma crise de pânico. Sofro disso. Um dos meus demônios. Algumas vezes acreditei estar ficando louca, outras eu tenho certeza (hahahahahaha). Porém tenho buscado ficar bem – tem uns remedinhos que ajudam.

O que você vai ler é um desses exorcismos, foi minha forma de transformar aquele episódio de LOUCURA em, simplesmente, CURA! Então, que a história comece:

A aula do doutorado havia acabado. Setor II da UFRN – Campus Central. Ela descia calmamente para a parada de ônibus para se deslocar para fora da universidade.

Como era final de tarde, final de aulas, a parada começou a encher e cada pessoa que chegava despertava nela uma vontade de se afastar. “Pessoas podem ser perigosas. Muitas pessoas juntas, então...” Era isso que se passava na cabeça daquela mulher Trans.

Num supetão, ela atravessou a pista dupla, atravessou o canteiro central, atravessou a outra pista dupla de sentido inverso, pousou na parada à sua frente: vazia. Completamente vazia, sem as pessoas perigosas. “Mas, a quem recorrer se alguém a atacasse ali?!” “ Há pessoas boas, elas podem me ajudar e me socorrer”. Em sua mente, várias vozes dialogavam.

Atordoada, ela corre cegamente em direção àquela parada entupida de gente da qual partira há pouco... Não conseguiu. No canteiro, ela virou planta, literalmente. Balançando a cabeça de um lado para o outro (talvez em busca de um sinal de socorro) como se uma planta movimentada pelo vento, ela quedou-se ali. No canteiro. Planta. Apática. Sem ação ou reação alguma. Olhando. O quê? Nem ela sabia, pois na verdade seus olhos não olhavam nada, buscavam por socorro.

Um circular (ônibus interno do campus) vazio, voltava para o local de descanso do motorista. Como ela sabia? Ele vinha vazio e em sentido inverso... Numa pulsão, correu e gesticulou freneticamente pedindo parada. Aquele motorista percebeu que a mulher Trans não estava bem. Parou e explicou que estava indo pro descanso. Ela só entrou arfando: “Me leve, por favor” - com a pouca coragem e o pouco ar que ainda lhe restavam.

Nessa hora, nervosa e trêmula, percebeu a necessidade de respirar melhor, recorreu à uma bombinha para asma, pôs o rosto para fora da janela, inspirou forte e soltou todos os demônios pelo caminho...

 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).