Bia Crispim

03/12/2021 09h08

 

FOMOS ÀS RUAS PARA NÃO SERMOS SILENCIADAS

Incomodadas com o silenciamento do poder público e da sociedade civil diante dos casos de feminicídio ocorridos recentemente de maneira bárbara em nossa cidade (Parelhas/RN), o Coletivo de Mulheres Chá das Marias mobilizou a cidade para a realização de uma marcha: PARELHAS MARCHA CONTRA O FEMINICÍDIO, realizada neste último dia 25 de novembro.

 

O próprio coletivo nasceu desse incômodo. No primeiro semestre desse ano, uma jovem de 22 anos foi morta a pauladas e a comoção não passou do choque inicial. Um silêncio sepulcral apoderou-se dos dias seguintes e isso fez com que algumas mulheres pensassem na construção de um coletivo que pudesse fazer um trabalho de conscientização com as mulheres do município e também que juntas e fortalecidas, pudéssemos cobrar do poder público ações efetivas e afirmativas contra a violência doméstica. 

 

Parelhas, assim como a maioria das cidades desse Brasil, parece não ter se importado muito com o fato de uma mulher ter sido assassinada. Principalmente quando o caso de feminicídio foi protagonizado pelo companheiro, ou ex-companheiro da vítima. 

“Briga de marido e mulher, se meta não!” 

“Coisa de família! Você não tem nada a ver com isso!” 

 

Talvez esse seja o pensamento que paira por aqui e por tantos outros rincões desse país que historicamente nasceu colonial, patriarcal, machista e misógino; nasceu construindo a figura feminina como parideira, amante e saco de pancada; nasceu assegurando ao homem que a mulher era sua propriedade e, portanto, passível de qualquer tipo de ação ou omissão, afinal “a mulher é minha”, a mulher é um objeto e dele (com ele) “faço o que quiser.”

 

Diante desse cenário de opressão, violência, silêncio e incômodo, outros casos de assassinato de mulheres, violação de direitos da mulher e feminicídio ocorreram e o coletivo que até então, com seus poucos mais de 90 dias de vida, havia feito ações educativas como palestras em escolas, em comunidades rurais, dado entrevistas na rádio sobre a temática das violências contra as mulheres, resolveu articular uma ação que tirasse esses assuntos dos bastidores, que levasse o tema para a cidade ver, participar e se engajar. E, assim, a marcha foi às ruas. 

 

Afinal de contas, essas questões atingem todos/as/es. Não é a mulher que sofre violência a única vítima: Filhos, vizinhos, amigos e familiares, a sociedade de uma maneira geral é atingida. E por isso mesmo não poderíamos mais ficar de braços cruzados, fechar os olhos e achar que violência doméstica é coisa que não “se mete a colher”. E foi por isso que a marcha foi às ruas. 

 

Urge que a sociedade se abra para discussões acerca dessas questões que o patriarcado e o machismo insistem em esconder ou proibir com o argumento de que é de domínio privado. Urge a discussão sobre gênero e papéis sociais, sobre empoderamento feminino, assim também como a discussão acerca do machismo tóxico e as relações abusivas. E que essas discussões possam ser feitas pela escola, pela família, pelas igrejas, com mulheres e homens, crianças, jovens e adultos. E foi por isso que a marcha foi às ruas.

 

Se não fomos capazes de proteger tantas mulheres que perderam suas vidas em nome de ideias retrógradas, sexistas, machistas e misóginas alicerçadas em nossa sociedade patriarcal, que sejamos capazes de garantir o direito pleno à vida para uma nova geração de mulheres. Precisamos, devemos e temos o direito como cidadãos/cidadãs interferirmos nesse ciclo, nessas ideias patriarcais que objetificam os corpos e as vidas das mulheres. E foi por isso que a marcha foi às ruas.

 

No dia 25, dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, o Coletivo de Mulheres Chá das Marias foi à rádio novamente, não para um debate ou uma entrevista, mas sim para uma convocação, para um chamamento, para propor a construção de uma aliança social capaz de ecoar as vozes de tantas mulheres que estavam/estão caladas diante da violência que as cerca. Foi por elas que a marcha foi às ruas. É por elas que o coletivo existe. E é para quebrar todas as formas de silêncio, opressão e violência contra as mulheres que existimos enquanto coletivo.

 

Marchemos! #pornenhumamariaamenos #nempenseemnosmatar

 

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