Bia Crispim

BOTA PÓ NO SENADOR

29/10/2021 10h14

 

BOTA PÓ NO SENADOR

 

Bota Pó ou Botinha, como os fãs a chamam, é uma influencer Trans maranhense que recentemente estrelou uma campanha de educação para o governo do Maranhão, estado onde nasceu e estuda: a plataforma Gonçalves Dias

Apesar de o vídeo ter recebido muitos elogios pela inclusão e representatividade que a escolha de uma jovem Trans traz para o momento atual, mostrando claramente que a Educação é para todas as pessoas, sem exclusão de gênero, classe, raça ou região, não demorou muito para que a garota de 16 anos e a peça publicitária fossem atacadas.

O senador Roberto Rocha, também do Maranhão, não aprovou a escolha da influencer para o comercial e disparou em suas redes sociais: “O governo do Maranhão, ao lançar a plataforma Gonçalves Dias de Educação, em vez de colocar como garoto propaganda um maranhense que tenha se destacado em alguma área, preferiu colocar um jovem homossexual assumido para fazer o papel de menina. Agora, analisando friamente, para que isso? Qual a necessidade disso? É apologia a homossexualidade ou não? Lamentável essa situação na qual passamos”,

Não preciso dizer que ele é aliado ao presidente Jair Bolsonaro, não é mesmo?! Para completar ele diz: “Nada contra a opção sexual de alguém. Agora, querer obrigar a aceitação desta opção de alguns como regra e apologia a prática homossexual, isso não dá para aceitar! Cartão vermelho para Flávio Dino”

O que esse senhor não sabe, ou finge não saber é que a homofobia é crime. Talvez saiba, porque logo logo apagou o post. Mas os internautas são mais rápidos e os prints estão aí para provar que a pedra foi jogada e que atingiu muita gente, não somente Bota Pó. No site www.meionorte.com Thaynara Oliveira Gomes, mais conhecida como Thaynara OG, uma apresentadora, atriz, influenciadora digital, youtuber e advogada brasileira, também maranhence, fez questão de se pronunciar, obviamente, a favor de Bota Pó. “Esses comentários homofóbicos disfarçados de “opinião” machucam muito. Ainda mais quando vem de alguém que tá ali para representar o seu povo”, disse.

A Secretaria de Educação do Estado do Maranhão publicou em seu Twitter: “Aprender é uma das maiores virtudes que podemos ter, e passar isso para os nossos jovens de forma rápida e fácil é um grande orgulho. A #PlataformaGonçalvesDias foi criada em um dos momentos mais difíceis que vivemos, mas com ela facilitamos o aprendizado de nossos estudantes.”

E o que as pessoas precisam entender de uma vez por todas é que, nós, pessoas Trans/Travestis, temos todo o direito do mundo de sermos educadas, de frequentarmos uma escola, de usufruirmos das benesses das plataformas educacionais, de sonharmos em construir nossos destinos através da educação e de fazer campanhas a favor dela. Sim! Nós temos esse direito.

Para aqueles que acham que uma pessoa LGBTIA+ não tem habilidades, potenciais, competências e gana, estão muuuuuuito enganados/as. Bota Pó deu seu recado. É só ir lá conferir a campanha da plataforma. Brilhou, deu conta, fez um monte de gente perceber que estamos dentro das escolas e queremos ficar dentro delas, não sermos expulsas ou evadidas pela homotransfobia, pelo bullying ou pelo descaso das gestões que nada fazem para impedir que isso aconteça.

Quanto às falas do citado senador, são mais que violentas, são equivocadas, deturpadas. Lamentável é ter um homem com esse tipo de pensamento, que verbaliza em suas redes sociais, de forma escancarada, homotransfóbica e grotesca, que direito à educação é só para aqueles/as que ele acha serem detentores desse direito. Lamentável! Cartão vermelho, senador!

Na campanha do Estado do Maranhão, ninguém está fazendo apologia a nada relacionado a sexo, sexualidade, gênero ou identidade. Ou obrigando ninguém a aceitar nada, nem ninguém. O que você vai ver é uma estudante Trans, fazendo propaganda de uma plataforma educacional onde ela  e outros/as/es estudantes terão acesso a conteúdos em qualquer lugar.  Uma estudante Trans que tem tanto direito à educação como qualquer outra/o/e adolescente cis também teria.

Fazer-nos visíveis, sairmos da obscuridade, conquistarmos espaços (ainda tão negados para a maioria de nós) parece ser o que mais incomoda essa gente com esses discursos preconceituosos. Quero deixar claro uma coisa: não estamos aqui de passagem. Estamos apenas cavando os alicerces da nossa pemanência. Os incomodados passarão, nós viemos para ficar.

 


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