Bia Crispim

01/10/2021 00h04
 
Tomando leite na “mamadeira de piroca”
 
Certamente você já ouviu a expressão “ideologia de gênero” e junto com ela uma sequência infundada de mentiras como a “mamadeira de piroca”, o “kit gay” das escolas, a ideia de que professores e professoras estavam ensinando as crianças a serem LGBTIA+ ou que, nas aulas, se aprendiam práticas sexuais “desvirtuantes”.
 
Pois é! Assim como todas as mentiras que acompanham a expressão, ideologia de gênero é mais uma mentira. Ela não existe. Aliás, existe nas cabeças realmente doentes e desvirtuadas daqueles que, em 2005, cunharam esse termo e seus tentáculos mentirosos. Essas pessoas são as mesmas que criaram a “Escola Sem Partido” e são as mesmas que, dentro de seus mundinhos retrógrados, patriarcais, machistas e sexistas, abominam qualquer discussão sobre desigualdade entre os gêneros – termo que, sozinho, já é visto com muitos maus olhos por essa gente.
 
Falar de gênero na escola é um “perigo” para esse grupo de pessoas, porque esse tipo de discussão está diretamente ligado às problemáticas que tocam em assuntos como o abuso, o assédio e as violências contra as mulheres cis e Trans, as Travestis e crianças; tratam sobre a diversidade, o que contribue para a diminuição de muitos preconceitos e a exclusão de certos grupos. 
 
Mas isso não interessa a essas pessoas que criaram, usaram e usam “ideologia de gênero” – ou somente “gênero” – como termos daninhos à sociedade e à família. Em nome de uma conduta normatizada (por quem?) em que só eles estão certos e salvos, todo desvio deve ser combatido. Vale salientar que tudo isso é feito não só em nome das condutas ditas normais, mas também “em nome de Deus!” Muitas dessas pessoas são fundamentalistas ou apoiadoras dos discursos de ódio inflamados pelo bolsonarismo – isso sim, doentio e perigoso para tudo e todos. 
 
Leandro Karnal, historiador, professor e apresentador, na crônica Vá com Deus, em seu livro O coração das coisas, diz o seguinte: “O fundamentalista é aquele que, em nome de um suposto deus, usa seu projeto de poder para reprimir e matar. Ele é inimigo de Deus e da ciência, inimigo da lógica e da revelação, inimigo de todo ser vivo e de toda sociedade aberta. O fundamentalista (religioso, político, científico etc.) é um ser do ódio que, se tivesse filiação, seria exclusiva com a figura do demônio, nunca com Deus; com burrice, jamais com a inteligência lógica.”
 
E infelizmente, seja por falta de informações e esclarecimentos sobre o assunto; seja pela má vontade em querer ler, entender e respeitar; seja por mau-caratismo e pacto com o ódio, com a burrice, com a desinformação e a intolerância a qualquer coisa ou pessoa que abale os pilares da tradição e, portanto, do poder colonial que rege nosso patriarcado, nosso sexismo, nossos preconceitos todos de todo dia; seja lá por qual motivo for, muita gente propaga essa desinformação.
 
Propagam nas redes sociais, propagam em suas casas, propagam em suas igrejas, propagam nas escolas, na conversa do barzinho, nos encontros de amigos... feito vírus, silencioso e sorrateiro, invisível e perigoso. E quando menos esperamos uma Fake News vira verdade e sua verdade se torna maior que a verdade de fato. E todos acreditam e todos passam a perseguir, a atacar...
 
Já disse em muitos momentos que o discurso de ódio se materializa, e se materializa de forma violenta e brutal. Pensar que em uma sociedade democrática, no século em que estamos dito evoluído e “pós-moderno”, com a quantidade de avanços científicos nas mais variadas áreas do conhecimento humano, algumas pessoas acreditem que todo mundo precise ter vivências e comportamentos e existências iguais, é, no mínimo, sem nexo, é absurdo, é um retrocesso. Como disse Rita Lee em entrevista dada em 26/09 para O Globo: “Era para a gente estar nos Jetsons e estamos voltando para os Flintstones.”
 
Enfim, voltando para a “ideologia de gênero”... Quem acredita nela deve ainda estar tomando leite na “mamadeira de piroca” e estudando com o “kit gay”, enquanto o/a professor/professora ensina malabarismos e performances sexuais impróprias em cima do birô da sala e o/a diretor/diretora filma tudo da porta para poder jogar nas redes sociais e confirmar que tal ideologia tomou de conta do mundo e vai nos condenar ao inferno.
 
(Vai um rivotril litrão pra acalmar???!!! HAHAHAHAHAHAHA...)

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