Bia Crispim

04/09/2020 00h28
 
Enquanto isso, na Argentina...
 
Em julho de 2019, pessoas assistidas pela Casa Nem – grupo que acolhe pessoas em situação de rua, transexuais, travestis e transgêneros – tiveram que desocupar o imóvel em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, o qual fora ocupado há, pelo menos, um ano pela Frente Internacionalista dos Sem Teto (FIST). 
 
Os integrantes da Casa Nem chegaram ao local após uma situação de despejo anterior, ocorrida em dezembro de 2018. Seus moradores tiveram que desocupar o prédio em que moravam na Lapa, no Centro do Rio. E há poucos dias, em 24 de agosto do mês passado, a ocupação da Casa Nem sofreu outra ação de despejo. 
 
“A Justiça determinou para esta segunda-feira (24/08) a reintegração de posse do prédio em Copacabana, na Zona Sul do Rio, que abriga a Casa Nem, um movimento de apoio a pessoas LGBT em estado de vulnerabilidade.”, diz Nathália Castro para o Bom Dia Rio. 
 
Atualmente, a casa abrigava 47 pessoas que foram comunicadas da reintegração de posse pela Defensoria Pública. Eles moravam no prédio desde julho de 2019 e pediam o adiamento da reintegração nesse momento de pandemia, porém, não foram atendidos, apesar de o prédio estar desocupado há mais de 10 anos como afirmaram os moradores da região.
 
No Brasil, uma grande parcela da população LGBTQI+ não têm onde morar, sobretudo as travestis e mulheres trans. Elas geralmente moram em prostíbulos; em casas alugadas, muitas vezes sem as comodidades básicas necessárias, tendo que dividir o espaço com um número grande de outras travestis ou mulheres trans; ou ainda, ocupando prédios abandonados, sofrendo a humilhação de despejos repetitivos. Não poderíamos esperar atitudes diferentes de um país que mais mata e violenta pessoas trans.
 
Enquanto isso, na Argentina, um conjunto habitacional foi criado para abrigar mulheres trans idosas. Isso mesmo, habitação. Que traz consigo “dignidade para” e “valorização de” vidas de pessoas trans. E a iniciativa, pasmem, partiu de uma freira. Isso mesmo, de uma freira! 
 
Segundo o site Põe na Roda “No último dia 10 de agosto, o primeiro bairro trans do mundo foi inaugurado no sul da Argentina, na cidade Neuquén. O bairro será de moradia exclusiva para doze mulheres trans idosas, as quais foram beneficiadas com o complexo habitacional e consequentemente com melhores condições de vida.”
 
O site ainda destaca que “Essa conquista se deve graças ao apoio da Irmã Mónica Astorga, da Ordem dos Carmelitas Descalças, a qual está à frente do projeto há 10 anos e conseguiu apoio do governo provincial e da Igreja. Em 2017, o município concedeu o terreno a Ordem dos Carmelitas Descalças e a Província foi responsável pela construção dos 12 apartamentos e um salão de uso comum.”
 
Já escrevi aqui, em outro momento, sobre o direito à fé que as pessoas trans e travestis têm. E essa atitude, partindo de uma religiosa, mostra que as religiões podem ser espaços de acolhimento e não de exclusão dessas pessoas, como se é praticado há anos. Acho louvável que a sociedade, partindo de suas instituições mais respeitáveis possa contribuir para a diminuição do preconceito entorno dessa população tão marginalizada.
 
Bem que o Brasil podia se espelhar em bons exemplos mundo afora, mas, infelizmente, no contexto atual, o que assistimos é a mais perseguição, intolerância, ódio e violência contra a comunidade LGBTQI+. Inclusive por parte de religiosos, de professores, de juízes, de políticos... Tá na hora das instituições mudarem esse discurso e promoverem dignidade cidadã para essa parcela da população. 
 
No mais… 
¡VIVA A LOS HERMANOS ARGENTINOS!
¡VIVA A LA HERMANA MÓNICA!
 

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