Liliana Borges

23/07/2022 00h47

PERNAMBUCO, Capitania que deu certo…

 

O território brasileiro no período colonial por volta de 1535 foi subdividido em 15 faixas de terras denominadas “Capitanias Hereditárias”, entregues a fidalgos portugueses que seriam responsáveis pelo povoamento de cada região e depois passariam de pais para filhos conforme sua nominação. Entretanto apenas algumas prosperaram como as Capitanias de Pernambuco e São Vicente.

O cultivo da cana-de-açúcar favoreceu o desenvolvimento destas regiões, pois era um produto de grande valor na altura e escasso na Europa. A economia açucareira continua com sua relevância em várias regiões no país, outrora foi motivo de muitos ataques de piratas, corsários e invasões.

Basta caminhar pelas ruas do centro histórico do Recife mais conhecido como “Recife antigo”, capital do Estado de Pernambuco situada no litoral do Nordeste do Brasil, para perceber a influência portuguesa presente na sua paisagem com belos casarios e ruas que nos reportam ao período colonial, a exemplo da graciosa Rua do Bom Jesus que foi eleita 3ª mais bonita do mundo pela “Architectural Digest”.

 Recife atualmente é uma metrópole com uma população aproximadamente de 1.700.000 habitantes. Tive a oportunidade de visitar a cidade em companhia de minha filha e a família de seu pai, onde apreciamos um lindo cenário às margens do estuário do Rio Capibaribe, a Praça Barão do Rio Branco onde se encontra o Marco Zero que representa o centro geográfico no Estado, como também, é conhecido como local de fundação da cidade. Vale destacar que a localidade é palco de vários eventos culturais entre eles o carnaval.

Da praça poderemos admirar o belíssimo prédio da atual Caixa Cultural de Recife, uma edificação de estilo neoclássico datado de 1912 que foi projetado para ser a sede do Bank of London & South America Limited. Inaugurado em 2021 como um centro cultural composto por galerias de arte, salas multimídias, teatro, salas para oficinas, entre outros.

Vizinho está a Associação Comercial de Pernambuco, fundada em 1839, funciona desde então ininterruptamente com uma arquitetura clássico-eclética que assim o caracterizam. Mais adiante o Centro de Artesanato de Pernambuco, inaugurado em 2012 com mais de vinte e cinco mil peças expostas à venda, valorizando aproximadamente dois mil artesãos pernambucanos.

 

Na outra margem está o Parque de Escultura Francisco Brennand, um museu de arte a céu aberto do artista plástico pernambucano que se tornou notório como ceramista. O artista nasceu em Recife em 1927, falecendo aos seus 92 anos em dezembro de 2019, foi autor de espaços culturais como este e a Oficina Cerâmica Francisco Brennand.

O parque foi inaugurado em 29 de dezembro de 2000, o qual fez parte de um projeto para comemoração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, seu acesso pode ser por barco fazendo a travessia com partida e retorno a Praça do Marco Zero. Sua composição inicialmente foram noventa esculturas, destacando-se a Torre de Cristal com 32 metros de altura, confecionada em argila e bronze.

 Cabe destacar que em Oeiras, na região metropolitana de Lisboa, no belíssimo Parque dos Poetas, entre os homenageados poetas da língua portuguesa está Manoel Bandeira, o qual também nasceu em Recife, e as esculturas no seu espaço é de Francisco Brennand que muito me orgulhou quando conheci.

Não poderia deixar de visitar o Museu do Cais do Sertão situado em um antigo armazém do Porto do Recife com uma espetacular exposição permanente referente a “Cultura do Sertão Nordestino” tal e qual como ela é, mais uma bela homenagem ao renomado músico Luiz Gonzaga e, ainda, conta sempre com exposições temporárias, atualmente a “Japonésia” pelo fotógrafo Naoki Ishikama, como diz ele: “O oceano não separa as pessoas”. Simplesmente emoção a flor da pele…

Quanto a gastronomia é riquíssima com inúmeras iguarias a exemplo do “Bolo de Rolo” que sua origem foi do “Colchão de Noiva” trazido pelos portugueses, uma espécie de rocambole de pão de ló recheado com nozes e amêndoas. Entretanto devido a falta destes ingredientes foi adaptado com o delicioso doce de goiaba e o bolo passou a ser enrolado com delicadas e finas camadas, atualmente possui diversos sabores, mas o tradicional é o de goiabada.

Ademais o “Bolo Souza Leão” a base de gemas que remete aos doces conventuais portugueses acrescido da mandioca um toque à brasileira, contam que era uma receita desta família dona de engenhos de açúcar, a qual deu origem ao seu nome e foi servido ao Imperador D. Pedro II e sua esposa Teresa Cristina em visita a Pernambuco e assim iniciou sua fama.  Entre várias outras preciosidades merece destaque as empadas de queijo do reino e os tradicionais caldinhos como o de feijão…

Frequentemente visitava Recife e acreditava que conhecia a cidade, porém nunca havia apreciado cada canto e recanto com emoção de voltar após um longo período vivendo em Portugal, somente agora foi possível perceber mais claramente a semelhança entre ambos e sua beleza estonteante que encheram meus olhos. Cada momento tem o seu valor e encantos, rever algum lugar sempre há algo mais…

 

Confira o vídeo sobre o assunto no meu canal no YouTube LILIANA BORGES EM PORTUGAL: https://youtu.be/aYS8xgrf8hw


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