Liliana Borges

26/09/2020 00h02
 
GRAÇA, Vila Bherta…
 
A Graça é uma antiga freguesia portuguesa do Concelho de Lisboa, tradicional bairro inserido no seu centro histórico, o mais alto das 7 colinas, aproximadamente com 5.800 habitantes. O Convento de Santo Agostinho foi construído no Século XIII e depois passou a ser chamado Convento Nossa Senhora da Graça que originou a denominação deste pitoresco bairro. 
 
Era uma região agrícola e foi modificando aos poucos quando a nobreza começou a habitar por volta do século XVI surgindo vários palacetes. Mais adiante o terremoto de 1755 destruiu praticamente Lisboa inteira, com sua reconstrução os trabalhadores buscaram esta região para residir devido a proximidade da baixa da cidade e os valores mais acessíveis dos terrenos. No século XX com a construção dos caminhos de ferro de Santa Apolônia foi grande atrativo para a classe operária e empresarial.
 
Ao longo de sua história, tornou-se um bairro operário, pois muitas vilas foram construídas pelos empresários para abrigar seus operários, como também, para suas moradias e de seus familiares a exemplo da Vila Bherta por Joaquim Francisco Tojal; Vila Sousa construída em 1890 por João Luiz de Sousa sobre o que restava um palácio arruinado; Estrela de Ouro concluída em 1909, por Agapito Serra Fernandes, industrial de confeitarias de origem galega,  entre outras.
 
Cabe destacar que a Vila Bherta foi projetada e construída entre 1902 e 1908 por um empresário brasileiro, Tojal que era filho de pais emigrantes portugueses. Ele adquiriu parte da Quinta do Alcaide Fidalgo na Graça em 1887 e, posteriormente, edificou a bela vila, cujo nome deu o mesmo de sua filha. Iniciou suas atividades como marceneiro até se tornar um grande empreendedor, constituindo importante empresa do ramo da construção civil. 
 
Na atualidade este bairro é uma mistura e combinação ao mesmo tempo entre o antigo, moderno e o contemporâneo em harmonia. É riquíssimo no seu patrimônio histórico e cultural com uma diversificação entre palacetes, vilas, simples residências, encantadores miradouros, lindos largos, jardins, capelas, igrejas, o belíssimo Convento da Graça e ademais, uma variedade de bons restaurantes, cafeterias, esplanadas …
 
No Alto do Miradouro da Graça temos uma vista privilegiada da linda Lisboa, vale sentar e deixar o tempo passar, tomar um bom café e admirar os cantos e recantos que nos cercam com seus encantos, depois visitar o Convento que nos surpreende com sua beleza e além disso, sempre há exposições temporárias por lá.
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Na oportunidade que visitei havia uma exposição: “CORPUS CHISTI” - “A Procissão do Corpo de Deus”. Diamantino Tojal (1897-1958), filho do brasileiro Francisco Tojal, idealizou com colaboração do arquiteto José Fernandes, escultor Vasco Conceição e o pintor Antônio Soares, baseados nos relatos da época, 1587 miniaturas em barro não cozido e policromado, retratando os participantes da procissão do Corpo de Deus da primeira metade do século XVIII. Belíssimaaaa!
 
Uma das mais antigas procissões que se realiza em Lisboa é a procissão do Senhor dos Passos da Graça no segundo domingo da Quaresma, acontece ininterruptamente desde 1587, seu percurso é entre a Igreja de São Roque e o Convento da Graça, onde atrai um grande número de pessoas entre fieis, religiosos, curiosos e turistas. Em 2020 ocorreu a 8 de março pouco antes do início da pandemia.
 
Em outro Miradouro, Senhora do Monte, além de mais uma bela visão da capital lusitana, poderemos visitar a Capela da Senhora do Monte onde se encontra a Cadeira de São Gens, escupida em pedra que provavelmente sua origem é do século IV, reza a lenda que toda mulher grávida deverá sentar-se na cadeira, a fim de assegurar um bom parto. Em 1714 D. Maria Anna Josefa, esposa do rei D. João V, lá sentou quando estava grávida de D. José I que foi Rei de Portugal.
 
A proporção que vou conhecendo esta bela nação tenho a sessação que nada conheço e, cada vez mais tenho vontade de voltar aos lugares que passei para conhecer mais um pouco, pois como relatei em artigos anteriores: Lisboa é como entrar em um livro de histórias e passear dentro dele ao vivo e a cores, ou ainda, viajar no tempo com nossos pés no mundo contemporâneo.
 
O que aprendi quando viajo é escolher poucos lugares para visitar, mas ficar por muito mais tempo em cada um deles. É maravilhoso poder sentar em uma cafeteria na sua esplanada, especificamente na calçada, e simplesmente, admirar o dia e aquele momento; as pessoas a ir e vir, a rua, os edifícios, a paisagem ao sabor de um delicioso café, sem tempo cronometrado, apenas ao nosso desejo e imaginação…
 
GRAÇA, muitos encantos…
 
 

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