Daniel Costa

04/09/2022 12h04
COMO DOIS CÃES ADESTRADOS
 
 
Foi lastimável o primeiro debate presidencial. Principalmente para quem esperava que Lula e Bolsonaro, os dois candidatos que estão concorrendo pra valer ao posto de presidente da república, se apresentassem de forma espontânea.
 
Eles, visivelmente, procuraram seguir as orientações dos seus marqueteiros. Agindo assim, exibiram um comportamento completamente diferente do que a população se habituou a vê-los. Bolsonaro foi treinado para mirar nos casos de corrupção do PT e deixar de lado qualquer outro assunto. A estratégia de Lula visou evitar o confronto, com a intenção de focar nas realizações dos seus governos.
 
O resultado final foi contrário ao que esperavam. Os tiros saíram tortos. Bolsonaro, apesar de ter, em termos retóricos, se exibido em melhor forma do que o petista, não conseguiu furar a bolha do seu eleitorado. Ele se limitou a repetir a fórmula da acusação de corrupção utilizada na campanha de 2018.
 
Não foi capaz de tratar de outros temas. Inclusive, guardou no bolso o problema da diminuição da renda da população, que atualmente parece ser um ponto que precisa ser enfrentado por qualquer um que pretenda granjear eleitores. Afora isso, sua participação desceu pelo ralo quando atacou ferozmente a jornalista Vera Magalhães, depois de ser questionado sobre a desastrosa condução do seu governo na pandemia.
 
 Já Lula foi orientado a distribuir beijos e abraços. Por conta desse adestramento que recebeu, ele não exercitou sua conhecida fluência discursiva. Foi agredido e fez de conta que não ouviu. Deixou de apresentar respostas incisivas e se manteve tímido na maior parte do tempo, quando se sabe que poderia facilmente desbaratar as acusações suscitadas por Bolsonaro.
 
Bastaria ter dito, por exemplo, que foi absolvido pelo STF, que nenhum ministro seu foi apanhado recebendo barras de ouro, que a delação premiada de Paloci foi desmoralizada depois das mensagens secretas da Lava Jato; e que Queiroz, as rachadinhas, o escândalo na compra de vacinas, o orçamento secreto e os cem anos de sigilo, são explicações que Bolsonaro deveria dar à população. Mas por ordem da turma dos bastidores, Lula resolveu silenciar sobre esses assuntos.
 
O fato é que os dois candidatos ficaram robotizados. Os treinamentos impostos pelas equipes de marketing e de publicidade mexeram com as suas personalidades. Lula e Bolsonaro agiram como verdadeiros cães adestrados, que se sentam, pulam, deitam e rolam ao comando do adestrador. No final das contas, isso significou o desvirtuamento do debate político e a própria diminuição da sua importância.

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