Daniel Costa

24/03/2022 09h28

 

OS TAMBORES DO POPULISMO

O filósofo búlgaro Tzvetan Todorov diz que é possível compreender um político populista sob duas miradas: a do sujeito que é populista porque executa um programa de governo que procura beneficiar a parcela pobre da população, e a do governante que é populista poque pratica ações meramente demagógicas e imediatistas com a finalidade de fisgar o eleitorado.  

Esses dois populismos são como tipos ideais. Entre eles existem misturas e variáveis. Lula, por exemplo, foi um governante populista no primeiro sentido, ainda que seja certo, como dois mais dois são quatro, que ele também agiu de maneira demagógica em alguns momentos. E quem não se lembra das intenções de Dilma Rousseff ao diminuir a conta de luz, antes do pleito presidencial de 2014? 

Mas até certo ponto isso é algo normal. Afinal, todo político precisa ser eleito, de forma que as suas estratégias de governo também são voltadas para a conquista dos votos. O nó é que entre realizar algumas ações com esse viés imediatista e ser um populista de carteirinha, que não mede as consequências econômicas e sociais de tais práticas, a distância é abissal. 

O populista de segundo tipo, aquele demagogo, causa um enorme mal ao país.  É que ele atua sem limite algum. Para se eleger, a régua das boas práticas de governo é quebrada ao meio, mesmo que a consequência disso seja um município, um estado ou um país destroçado. O presidente Bolsonaro tem mostrado ser dessa espécie de populista demagogo. A quantidade de traulitadas que ultimamente ele conseguiu desferir nos cofres do país, sem qualquer preocupação com as futuras consequências, chega a ser espantosa.  

A prorrogação do Auxílio Brasil até dezembro de 2022, ou seja, até um mês após às eleições, é o primeiro e principal sintoma desse seu populismo mambembe. Além disso, viu-se neste ano o anúncio da redução do IPI sobre diversos produtos, que significará um rombo na arrecadação de aproximadamente 19,5 bilhões. O governo também já se decidiu pela liberação do FGTS e pela antecipação do 13º de aposentados e pensionistas do INSS. Antes, ele havia aumentado o piso salarial dos professores, sem modificar a contrapartida da União no FUNDEB; e já sancionou lei que altera a cobrança de ICMS sobre combustível, o que significa perda de arrecadação dos Estados, quando se sabe que o governo instituiu uma política de venda e paralização das refinarias da Petrobrás, que tem influenciado na alta do preço dos combustíveis. 

O populismo, como escreve Todorov, prefere as simplificações e as generalizações. Ele propõe soluções imediatas que não levam em conta as consequências a longo prazo gerando um curto-circuito nas instituições. Por esses lados do Atlântico, os tambores do populismo não param de tocar. 

 

 

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