Alfredo Neves

11/08/2020 00h10
 
A arte figurativa de João Vicente 
 
João Vicente Guimarães Barbalho, natural de Afonso Bezerra, nascido em 14 de junho de 1963. Filho de José Moisés Barbalho e Necy Guimarães Barbalho. É o sexto filho de 10, sendo o mais novo de quatro homens. Radicou-se na cidade de Macau em 1971. Em junho de 1990 conhece Deise do Vale, onde dessa união, nasce em 15 de novembro de 1992, a sua filha Yemana do Vale Barbalho. 
 
De vida simples e com a condição financeira modesta, as idas e vindas do Sr. José Moisés, entre Afonso Bezerra e Macau, onde trabalhava na Salina Matarazzo de mecânico, fez com que nesta ocasião a família Barbalho mudasse em definitivo para a cidade das brancas dunas de sal, a terra da Deusa de A-Má, ou A-man-gao que significa Porto de A-Má. A propósito, a origem do nome desta belíssima cidade ainda é polêmica até os dias atuais, muitas teorias surgiram deste Câmara Cascudo (1898 – 1986), passando por Monsenhor João Penha (1926 – 2011) e mais recentemente pelo historiador e autor do livro “Um Rio Grande e Macau – Cronologia da História Geral” (2005), de Getúlio Moura Xavier (1962 -), onde ele abre uma nova tese de que o nome da cidade é originário da grande quantidade de Araras-Macau ou “Macaw” existentes na região e principalmente na cidade. O município originou-se a partir do desaparecimento da Ilha de Manoel Gonçalves em 1836, com cartografias da época sinalizando a ilha e a península com diversas pinturas deste pássaro belíssimo. 
 
Histórias à parte, mas, faço questão de citar a cidade desta maneira para descrever que em Macau habitam e habitaram diversos nomes da nossa cultura estadual e nacional, que vão desde Hianto de Almeida (1923 – 1964), Monsenhor Honório da Silveira (1878 – 1966), Gilberto Avelino (1928 – 2002), Geraldo Lucas Evangelista (1944 – 2010), Cláudio Guerra (1950 -), Benito Maia Barros (1957 – 2010),  Floriano Bezerra de Araújo (1927 - ), João Emanuel Evangelista (1957 - ), Gilson Vieira (1952 -) autor de “Casinha Branca”, e tantos outros.  João Vicente Guimarães é parte deste seleto nome de artistas brilhantes da cidade.
 
Segundo João Vicente ele teve uma infância típica de um menino do interior. Em Afonso Bezerra, onde nasceu, pelo fato da cidade ser bem pequena, sem calçamento, sem energia elétrica e mato por todos os lados, era um ambiente propício para as brincadeiras com os irmãos, primos e os amigos da cidade. Ele lembra com saudosismo das brincadeiras com pião, carros de lata, as roladeiras de lata, o rolimã, e quando da safra do caju tinha o jogo de castanha. Nas férias, o artista diz que não sai da sua memória os momentos agradáveis que passava na casa de sua tia Edite, na fazenda São Geraldo, arrendada pelo seu avô; lá ajudava na colheita do algodão, do feijão ou do milho, e em troca ganhava alguma coisa para levar para casa. Talvez por essa condição do ambiente lúdico e bucólico, e de forte ligação familiar, propiciou ao artista a iniciar os seus primeiros passos com os desenhos. 
 
Aos seis anos João Vicente começa a estudar. Em dezembro de 1974, faz exame de admissão no Ginásio estadual de Macau. Não se considerava um aluno aplicado, mas os trabalhos que precisavam de desenhos, como história, geografia e ciências, eram sempre bem feitos. “[...] nos intervalos, costumava ficar desenhando figuras no quadro. Na oportunidade que podia, gostava de desenhar figuras de gibis, como Tarzan, Zorro, Batman e outros”. Ao morar em Natal, instalou-se na Casa do Estudante. Matricula-se no curso de Artes da ETFERN e herda o material de pintura do irmão Zé Márcio, e três livros sobre a vida dos pintores Van Gogh, Diego Velázquez e Renoir, livros que pertenciam a Arimatéia, cunhado de Zé Márcio, onde ele diz nunca foram devolvidos. Participa de exposição com alunos, vende um quadro a uma professora da escola. Depois o artista abandona o curso de arte, mas fica pintando em casa. 
 
João Vicente diz ainda que em Macau apenas desenhava ou pintava com lápis de cor. Mas tudo por intuição. Já, em Natal, quando tinha dinheiro comprava material e suporte para pintura. O papelão de sapateiro coberto com o tecido de murim era o suporte mais barato. Fazia-o como aprendeu no curso. Quando era possível comprava tela pronta. A informação sobre arte pegava em revistas semanais. 
 
O Artista considera que a sua pintura sempre foi figurativa, com figuras humanas e natureza-morta. No entanto, vez ou outra recorria ao Cubismo, Impressionismo ou Neo-Impressionismo para representá-las. Os temas abordados eram o nu feminino, trabalhadores e paisagens. 
 
Em 1982 João Vicente retorna para Macau. A família morava em Imburanas, onde ali era localizada a sede da Empresa Henrique Lage Salineira, antiga Matarazzo. Aprovado para o curso de Tecnólogo em Mecânica, oferecido pelo Campus Avançado da UFRN em Macau. Antes de iniciar o curso, faz concurso para a Petrobras. Por insistência da mãe segue adiante com as provas do concurso, pois não queria trabalhar na empresa petrolífera, e torcia para não ser aprovado. Foi aprovado mesmo contra a vontade para o Cargo de Praticante de Produção, iniciando o estágio em 1983 e logo em seguida admitido 09 de janeiro de 1984. No mesmo período filia-se ao PCB – Partido Comunista do Brasil, participa de atividades sindicais e da política e abandona o curso na UFRN. 
 
Em 1986 monta atelier em Macau com o artista plástico Getúlio Moura Xavier.  Em 88 matricula-se no curso de Educação Artística, modalidade Artes Plásticas, na UFRN em Natal, para abandonar o curso em seguida.
 
Em agosto de 1988, morando novamente em Natal, faz exposição junto com Getúlio Moura no Solar Bela Vista, na própria cidade, e na AABB, em Macau. Participa de alguns concursos de poesia realizados pelo Projeto Arte na Praça, do promotor cultural João Eudes, e ganha um com o poema “A Praça”, ainda não publicado, e outro com “Aluado”, publicado no livro “Olhos Ateus”, de 1998.
 
Em 1996 colabora com a criação do primeiro jornal de Macau, dos tempos atuais, a “Folha de Macau”. Faz ilustrações para artigos e ensaios.
 
Em 1998 lança o livro de poesias “Olhos Ateus”, pela ICEC – Imperial Casa Editora da Casqueira, uma produção independente de 100 exemplares. O poema Antropofagia é musicado por Edinho Queiroz, cantor e compositor macauense radicado na Itália.
 
Como poeta e de uma poesia também bastante refinada, João Vicente escreve cordéis com alusão e críticas a política local, como o “O Povo e o Bicho”.  No ano seguinte, lança o cordel “Peleja de Recado com o fictício João de Calais”, falando sobre os acontecimentos políticos de Macau, e o “A Peleja de Recado com Zé Vieira” (2000), Zé Vieira é pai de João Eudes Gomes, um reconhecido e magnífico produtor cultural da cidade. Em 2012 lança “Peleja de Recado” e a “Peleja do Pau Torto”. 
 
Em 2019 reedita e lança em Macau o livro Olhos Ateus, fazendo em conjunto uma exposição com sua produção antiga e mais recente.
 
A Arte de João Vicente é na sua maioria figurativista. Como ele relata mais acima. Há, no entanto, uma visita dentro de outros movimentos, mas sempre apresentando aos observadores figuras e objetos existentes na natureza. Particularmente conheci diversas obras do artista, principalmente “Operário Comendo Frutas” (1987), 50 x 65 cm, óleo sobre tela, que retrata a vida laboral e quase sem descanso dos operários na operação de petróleo do Polo Industrial de Guamaré, e em meio ao árduo labor, um tempo rápido para um alimento saudável. Fazendo um paralelo da estética e do estilo do artista plástico com outros nomes da nossa pintura, vejo as suas obras próximas das dos pintores Arcangelo Ianelli (1922 – 2009) e Lasar Segall (1891 – 1957). Tanto um como o outro passearam por escolas que suavemente caracterizaram as suas obras de arte. Os casarios de Ianelli, os abstratos, os geométricos, os barcos e as figuras estilizadas, marcaram a sua pintura como as mais criativas e belas entre várias pinturas brasileiras. Os retratos de Segall, os bananais, os abstracionismos, os pastos ressequidos e outros verdejantes, as suas florestas e as telas como as de naturezas-mortas, fazem deste grande artista um referencial para todos aqueles que iniciam as suas pinturas. As telas de João Vicente, porém, não deixam a desejar a nenhum artista do nosso tempo em qualidade e sublimação, tanto pela leveza estética quanto pela técnica adotada. As suas escolhas, quando da concentração no cavalete do seu atelier, podem de um estilo impressionista, ou produzir uma bela tela abstrata para o nosso deleite. Essa comparação entre Ianelli e Segall apenas traz para mim, diante do que escolhi para analisar e criar um paralelo, a grandiosidade das obras de João Vicente. Há outros artistas com estilos parecidos, mas nunca iguais, afinal, cada um com a sua viagem criativa, o cenário, a genialidade e o tempo como marcas fundamentais para influenciar as suas obras.
 
Das outras telas de João Vicente, destaco: “Conflito” (1989), óleo sobre tela, 27 x 40 cm; “Castelo de Areia” (1995), óleo sobre tela, 50 x 70 cm; “Jovem com Chapéu” (1987), óleo sobre tela, 27 x 40 cm; “Moinho Velho da Passarinho” (1994), óleo sobre tela, 50 x 70 cm; “Natureza Morta com Caçarola” (1987), óleo sobre tela, 27 x 40 cm; “Autorretrato” (2018), óleo sobre tela, 50 x 70 cm; “Neguim da Água” (1987), óleo sobre tela, 27 x 40 cm; “ExperiÂnsia - Apartação” (2019), Barro e Acrílica sobre papel reciclado, 24 x 34 cm; “ExperiÂnsia – Dança pra Oxum” (2019), Barro e acrílica sobre papel reciclado, 24 x 34 cm; “Nu” (1993), raspagem em óleo sobre tela, 36 x 58 cm e “Operário Comendo Pão” (1987), óleo sobre tela, 50 x 70 cm.
 
No momento, João Vicente diz que raramente pinta ou desenha. Mas o artista fala que isso não é definitivo. Está escrevendo e reunindo alguns poemas para o lançamento de mais um livro e vai iniciar um projeto de exposição de pintura.
 
Fonte de Pesquisa
Dados informados pelo próprio artista

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