Alfredo Neves

19/05/2020 08h10
 
A indizível pop art de Vicente Vitoriano
 
 
Vicente Vitoriano Marques Carvalho, ou como é mais conhecido: Vicente Vitoriano. Nasceu na cidade de Mossoró-RN em 1954. Filho de José Victor de Carvalho e Maria de Lourdes Marques. O pai de Mossoró e a Mãe de Castanhal, no Pará. Segundo Vicente, o Vitoriano foi atribuído a ele em homenagem ao avô materno que ele não chegou a conhecer. Em 1973 termina o ginasial e vem morar em Natal-RN para cursar na UFRN Arquitetura e Urbanismo. Vicente Vitoriano tem mais de 40 anos de atuação. Após conclusão do bacharelado, tornou-se ainda especialista em ensino da arte, em ensino de desenho, especialista em ensino superior de arte, mestre e doutor em educação e crítico de arte com diversas colunas escritas em jornais importantes do estado e do país. Exerce ainda as atividades de pesquisa em História da Arte, englobando a arte contemporânea, artes visuais, curadoria e mediação cultural. 
 
Em relação ao seu aprendizado inicial, Vicente Vitoriano diz que foi alfabetizado em casa, e a sua professora foi a irmã Adelaide, e só aos sete anos foi frequentar os bancos escolares, sabendo ler e escrever um pouquinho, afirma o artista e poeta. A sua experiência como artista iniciou-se com foco nas artes visuais, no entanto, pela sua multifacetada e irrequieta atividade cultural, é também poeta, compositor musical e cantor. 
 
Em entrevista para o Extra/SOERN, Vicente Vitoriano afirma que da arquitetura para o desenho não há distância que os separe, para ele arquitetura é desenho, e isto foi fundamental para influenciá-lo para o mundo da pintura. Vindo de uma concepção neoclássica de produção artística, e com ideias expressionistas, a atividade cotidiana ligada aos desenhos sistematizado, mediado pelo desenho arquitetônico, pôde então possibilitá-lo a ter uma visão apurada e crítica sobre a sua produção visual. Ele costuma nomear as suas obras como desenhos coloridos com materiais como lápis de cor, aquarela, canetas, guache e, muito ocasionalmente, com tinta acrílica.
 
A Obra de Vicente Vitoriano é Visual.  A respeito do termo já tratei aqui em artigos anteriores, no entanto, reforço mais um pouco que o artista visual e o artista plástico enveredam por vários caminhos estéticos e de estilos. E quando falamos sobre essas habilidades artísticas aprendemos que iremos encontrar um mundo vasto de recursos envolvidos, e o resultado pode ser um desenho, uma pintura abstrata, expressionista, geométrica, gravuras, colagens, esculturas, trabalhos em madeirite, em argila, madeira, metal, fotografia e atualmente o uso das novas tecnologias, como softwares de desenvolvimento de artes ou avançadas impressoras 3D. 
 
Vicente Vitoriano é um artista contemporâneo que podemos classifica-lo como genial tanto quando do início das suas primeiras influências, lá na sua juventude, na adolescência, bem como mais adiante na sua rica e atual carreira artística e acadêmica. No Acadêmico o artista vai provar da fonte bauhausiana, certamente. Com expressiva influência moderna a Bauhaus, escola criada na Alemanha por Walter Gropius (1883 – 1969), em 1919, notabilizou arquitetos e designers mundialmente, e que teve em seus quadros artistas renomados como Wassily Kandinsky (1866 – 1944), Paul Klee (1879 – 1940) e Herbert Bayer (1900 – 1985).  A sua obra perambula por escolas vastas, e ao mesmo tempo em que se adapta às novas demandas, sem se preocupar apenas com a necessidade mercadológica, sempre se recicla chegando a certos resultados que se tornam próprios e inovadores. Para ele o prazer em produzir os seus trabalhos está na simples condição de se surpreender e surpreender os admiradores com uma bela e poética obra de arte.  
 
Assim como muitos artistas, a exemplo de Pablo Picasso (1881 – 1973) que se influenciou pelo pós-impressionismo, passando pelo figurativismo e reformulando o seu cubismo, ou Kazemir Malevich (1878 – 1935), com a sua influência também do pós-impressionismo, do Fauvismo, do cubismo e depois do Abstrato Minimalista, só para citar a trajetória de alguns precursores  de movimentos que esses artistas vivenciaram, Vicente Vitoriano também experimentou e ainda experimenta estilos que no seu entender são importantes para o seu aprendizado permanente como para a própria realização final da sua produção artística.
 
Entendo, sobretudo, diante do universo fabuloso em que o artista pôde vivenciar e ainda vivencia, desde a academia, e depois indo para o mundo da Arte Plástica, o visual se torna rico de sentimentos e indizivelmente mágico, indo de um estilo abstrato por exemplo, ou como ele mesmo diz, com raízes dadaístas pop, ou mais fortemente com a Pop Art. Esse sentimento é a raiz da qualidade da sua produção, o indizível é dado pela sublimidade do seu trabalho. Sobre esse sentimento, recorro a uma frase célebre de Cândido Portinari, onde ele diz: “O Alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém um meio indispensável”. E é assim que percebo esse misto nas obras de Vicente Vitoriano, carregadas de uma forte afetividade com as suas criações em meio a técnicas meticulosamente apuradas.
 
Visivelmente em muitas telas de Vicente Vitoriano estão presentes os traços marcantes do Movimento Pop Art. Antes de nomeá-las falarei um pouco sobre a Pop Art, que teve o seu auge entre os anos 60 e 70 na Inglaterra e nos Estados Unidos, extraindo suas imagens da cultura popular e tornando-se acessível, popular e um sucesso comercial. (Art: the definitive visual guide. 2012, p. 57). “O termo “pop art” foi usado pela primeira vez em meados dos anos 1950 para descrever o trabalho de um grupo de jovens artistas ingleses. Em pouco tempo, essa arte conquistou também os EUA. Como uma reação à filosofia da “arte pela arte” da pintura abstrata do pós-guerra, a Pop Art tinha suas raízes no Dadaísmo e nos ready-mades de Marcel Duchamp. Entretanto, as imagens da cultura popular que os jovens artistas viam à sua volta, nos filmes de Hollywood, nos desenhos usados na propaganda e nas embalagens, nos quadrinhos e na televisão, ofereciam a nova iconografia de que eles precisavam para contestar o conservadorismo da arte mundial”. (Dorling Kindersley – São Paulo: Publifolha, 2012).
 
Quando se fala de Pop Art muita gente já a identifica com a figura de Andy Warhol (1928 – 1987), porém, fora da Inglaterra, onde lá a arte iniciou com Richard Hamilton (1922 – 2011), Peter Blake (1932 - ), David Hockney (1932 -), dentre outros, nos EUA os precursores foram Jasper Johns (1930 -) e Robert Rauschenberg (1925 – 2008). No Brasil podemos citar: Romero Brito (1963 -), Claudio Tozzi (1944 -), Rubens Gerchman (1942 - 2008), Antonio Dias (1944 - 2018), Helio Oiticica (1937 – 1980) e diversos outros que recomendo a pesquisa e leitura. 
 
Destaco as obras e alguns trabalhos de Vicente Vitoriano: “Eu Prometo”, 1981; Ação, 1972; Caio Como São Sebastião, 1993; A Arte Moderna – Baudelaire, 2008; Artisticidade 2, 2009; Mr. Duchamp Handmade, 2009; Cabisbaixos 01, 2014;  Iracema, 2015; Novas Figuras, 2015; Novas Figuras 07, 2015; Olhando Para o futuro, 2019-2020; Morte,2019; Brincando com Sombras, 2019; Ilustra, 2018; Primaverando, 2018 e tantas outras de bela candura.
 
Além de tudo que já escrevi, cabe ainda destacar outras atividades do artista, tais como: Crítico de arte - Coluna Artes Plásticas no Diário de Natal, entre 1994 e 2009; Revista Palumbo – novembro de 2009-2012, Jornal da ADURN, de setembro de 2009 a 2011; Jornal Potiguar Notícias, de setembro de 2010 - 2013. Presidente Honorário do Instituto Cultural Antônio Bento. Ex-membro do Conselho Municipal de Cultura (Natal, RN).  Programador visual e ilustrador. Co-autor do livro didático “Introdução à cultura do Rio Grande do Norte” (Deífilo Gurgel, Tarcísio Gurgel. João Pessoa: Grafset, 2003).  Co-autor (ilustrações) do livro “Natal, noiva do sol”. (Clotilde Tavares. São Paulo: Cortez, 2003). Poeta, com dois livros publicados por editoras natalenses (Os vértices do triângulo. Natal: Fundação José Augusto, 1985 / A falsa simetria. Natal: Sebo Vermelho, 2003). No prelo (Editora Universitária): “Navarro: um flâneur”. Participação como co-diretor, encenador, ator, cenógrafo e músico em grupos teatrais natalenses (Sub-grupo de Teatro Mágico para Poucos, Grupo Nuvem Verde de Teatro Aberto – Gato Ludico, 1974-2014). Organizador da reedição do livro “Manet no Brasil”, de Antônio Bento (Fortaleza: Editora IMEPH, 2009).
 
Dentre as suas exposições, elenco algumas individuais: 1978 – Jogo de diferenças. Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo. Fundação José Augusto. Natal, RN.
1978 – Vicente Vitoriano. Galeria do Jornal “O Mossoroense”. Mossoró, RN.
1979 – Vicente Vitoriano. Galeria do Restaurante AMAI. Natal, RN.
1989 – Um processo. Galeria Newton Navarro. Fundação Hélio Galvão. Natal, RN.
1991 – Aquarelas. Galeria Lamaneh. Mossoró, RN. 
1997 – Paisagens de Macau – Aquarelas de Vicente Vitoriano. Centro Comercial Aluízio Barros. Prefeitura Municipal de Macau. Macau, RN. / Domingo na praça. Praça Nezinho Mendes (Pátio da TV Cabugi). NAC/UFRN. Natal, RN.
2010 – Retrospectiva XXI – 2002-2010. Para sessão de homenagem pela Associação Brasileira de Odontologia – RN.
2014 – Abissais. Outubro – Galeria Conviv’art. NAC/UFRN.
2015 – Diálogos elementais. Julho-Agosto. Em parceria com a ceramista Ana Antunes. Galeria Conviv’art. GUAP/NAC/UFRN.
 As coletivas: 1972 – I EXCOAP. Galeria da Faculdade de Ciências Econômicas de Mossoró. Prefeitura Municipal de Mossoró. Mossoró, RN.
1973 – Pintura e cerâmica de Vicente Marques Carvalho e Franklin Jorge. Reitoria da UFRN. Pró-Reitoria de Extensão da UFRN. Natal, RN.
1977 – Prêmio de Pintura Newton Navarro. 1º Prêmio. Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo. Fundação José Augusto. Natal, RN.
1978 – Arte Potiguar em Belém. Grupo Cobra. Governo do Estado do Pará / EMPROTURN. Belém, PA. 
1979 – Arte Potiguar em Fortaleza. Grupo Cobra. Curadoria de Franklin Jorge. Fortaleza.
1979 – Artistas do Rio Grande do Norte. FUNARTE. Rio de Janeiro, RJ.
1982 – Artista convidado na 4ª Mostra do Desenho Brasileiro. Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte do Paraná. Curitiba, PR.
1987 – Quadrantes. Participação com Marcelino Medeiros, João Antônio e João Natal. Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo. Fundação José Augusto. Natal, RN. 
1992 – Arte à vista. Inauguração da Capitania das Artes. Prefeitura Municipal do Natal. Natal, RN.
2018 – Olhares sobre o mundo. GUAP/DARQ/DEART. Galeria do DEART. 03 a 11 de maio.
2018 – Fazendo artes, educando gerações. PMN/GUAP/DEART/DARQ. Memorial da Cidade, Parque da Cidade. 5 de setembro a 14 de outubro.
2018 – Grupo Universitário de Aquarela e Pastel: UFRN 60 anos. PROEX/NAC/GUAP/DEART/DARQ. Galeria Conviv’art. 22 de novembro a 7 de dezembro.
2018 – Âmago. Bardallo’s/GUAP/DEART/DARQ. Restaurante Bardallo’s. 23 de novembro a 28 de dezembro. (Coletiva de bolsistas PROEX/DEART/DARQ).
Com isto podemos conhecer mais um artista da nossa tão rica e profícua galeria de gênios do Rio Grande do Norte. Nos veremos na próxima terça-feira. Abraços!
 
Fontes de Pesquisa:
Arte: artistas, obras, detalhes, temas: 1945-1960 / [Dorling Kindersley]. – São Paulo: Publifolha, 2012, p.57-77
 
Dados do arquivo pessoal do artista 

 


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