Andrea Nogueira

16/11/2019 00h05
 
Cidadão esclarecido, sim senhor!
 
O Brasil é imenso e composto por estados membros que diversificam sua cultura nacional. É dividido por regiões, mas nem mesmo estas unificam o sotaque, as gírias, o modo de vestir e os alimentos típicos dos seus habitantes. É mesmo um país cheio de diversidade.
 
Dentre os estados brasileiros, dois são femininos: a Bahia e a Paraíba. Falando em femíneo, um desses Estados nordestinos é nacionalmente conhecido por causa de uma canção que, aparentemente, denomina sua população feminina de “mulher macho”.
 
A canção referida chama-se “PARAÍBA”, gravada por Luiz Gonzaga. Contudo, jamais se referiu à mulher paraibana, mas ao Estado da Paraíba.
Após a época em que o paraibano João Pessoa lutou junto ao gaúcho Getúlio Vargas pelo voto secreto, já que o voto aberto (conhecido voto de cabresto) tornava a eleição de um opositor ao governo praticamente impossível, a expressão “Paraíba masculina, mulher macho sim senhor” foi construída.
 
João Pessoa seria vice-presidente de Getúlio Vargas, mas foi assassinado antes de alcançar este posto. Sua morte revoltou muitos, fortalecendo a revolução de 1930. Como consequência, Getúlio Vargas chegou ao poder e o voto secreto finalmente foi instituído. O compositor de “PARAÍBA” fez, então, uma homenagem aquele estado tão pequenino, feminino, mas que transformou a nação inteira. Naquela época, a força e a coragem eram atributos relacionados aos homens, já que as mulheres ainda não gozavam de tanto reconhecimento. Na música, portanto, a expressão “mulher macho” refere-se à própria Paraíba (estado, substantivo feminino).
 
A canção é ouvida ou cantada por muitos como símbolo da força da mulher sertaneja, mas sua conotação é completamente política e em nada se refere à população feminina paraibana.
 
Certamente muitas pessoas ainda confundem o significado da letra musical, já que naturalmente, ao longo dos anos, a sociedade relacionou força e coragem ao universo masculino, sobrando para o feminino a delicadeza e a beleza para serem ressaltados. E sendo o Nordeste cheio de desafios subsistenciais, parecia natural referir-se à Nordestina como uma mulher necessariamente forte. Contudo, nem Luiz Gonzaga nem Humberto Teixeira (compositor) referiam-se às mulheres paraibanas. Isso nos mostra o quanto a maioria da população é mesmo desligada da realidade política que lhes cerca.
 
Há, de fato, uma grande parcela da população que não entende as entrelinhas das mensagens porque não se concentram nos acontecimentos políticos do seu país, correndo o risco de serem fantoches nas mãos de quem deseja que continuem inocentes nesse contexto.
 
Hodiernamente, já não precisamos da expressão “mulher macho” para fazer referência à mulher forte, pois as lutas femininas reconstruíram conceitos ao ponto de transformar a expressão “mulher forte” num pleonasmo. Assim, quanto à igualdade de gêneros e à valorização do feminino, muitos avanços podem ser registrados. Mas quanto ao conhecimento sobre os nortes políticos do nosso país, a população ainda é tímida e desinteressada. Apesar dos movimentos eufóricos partidários ou de aparente ideologia política impulsionados por cidadãos comuns através de suas redes sociais, o que está nas entrelinhas ainda permanece imperceptível para a maioria.
 
De forma inconteste, conceitos confusos continuam sendo propagados sem a menor preocupação com o contexto histórico e político vigente.
Excessivas manifestações misturam fúria e indignação atraindo pessoas que mais se preocupam com a melodia do que com a letra da musica que os fazem bailar. Mas como afirmava Margareth Mead: “Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, sempre foi assim que o mundo mudou.” Com esta frase reflexiva, espera-se que todos os estados brasileiros sejam fortes, sim senhor.

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