Daniel Costa

08/09/2017 10h45
"Tem que acabar com essa roubalheira!". Quem nunca ouviu essa frase saída da boca de um amigo, que lance a primeira flecha. No auge do impeachment, quando a classe política se uniu para defenestrar Dilma Roussef do poder, esse era o argumento de ouro de muita gente boa. O problema do país era a corrupção. Tudo mais não tinha a menor importância diante do apartamento do Guarujá, das pedaladas fiscais e das gravações telefônicas.
 
O nó é que o tempo passou e os acontecimentos não se desenrolaram da maneira como se esperava. É certo que o golpe vingou. Mas, a partir de então, ao menos para os colegas de boa-fé que haviam caído no engodo do discurso fácil da corrupção unilateral, a realidade dos fatos se mostrou completamente diferente. 
 
As pedaladas fiscais, há anos praticadas a torto e a direito, se tornaram um mar de golfinhos diante da projeção de um déficit fiscal de R$ 159 bilhões. O inquérito aberto contra Dilma, às vésperas da votação do impeachment, que tratava de uma suposta tentativa de barrar as investigações da Lava Jato, comprovou-se ser uma patacoada sem lastro, agora reconhecida pela Polícia Federal. E até mesmo a alegada obstrução da justiça por Luiz Inácio Lula da Silva morreu na praia por falta de provas. 
 
A torcida da turma, assim, fica atualmente por conta do depoimento de Antonio Palocci, que não tem nada de voluntário, e surge exatamente depois do sucesso de Lula pelas plagas do nordeste e da comprometedora atuação de Rodrigo Janot.
 
Em contrapartida, o novo presidente se apresenta sem máscaras, como uma espécie de papa da corrupção. As provas pululam nas capas das revistas e dos jornais dando conta das suas inúmeras falcatruas. As malas de dinheiro do ex-ministro Geddel são apenas uma espécie de bracelete de brilhantes caída da bolsa de um assaltante em fuga. Por sua vez, as tentativas de enfiar a Lava Jato num saco de lixo, a cada dia se tornam mais visíveis. 
 
Mesmo assim, os colegas preferem fazer ouvido de mercador. O discurso da roubalheira e da ojeriza à corrupção, eles escondem em algum bolso fundo do paletó. Também preferem guardar as camisas amarelas, assim como as panelas e os protestos, pairando perplexa no ar a seguinte pergunta: afinal de contas, a intenção era ou não era a de combater a corrupção, contra tudo e contra todos, na mesma medida? 
 
Aécio Neves, por sua vez, aquele que fez com que os amigos andassem nas ruas expondo as capas da revista Veja, se viu enredado numa teia de escândalos digna de um Al Capone, com provas explícitas da "roubalheira", além de ameaças de homicídio. Apesar disso, os seus ex-eleitores não dizem uma palavra. Não se lê uma frase crítica. Silêncio sepulcral. 
 
Mas não tem problema. Ao menos para esses confrades, tudo haverá de se resolver a partir da privatização da Petrobrás, da venda da Eletrobrás, do Aeroporto de Congonhas e da “doação” de um bom naco da Selva Amazônica. Muito mais. A luz no fim do túnel parece ter surgido: Dória vem aí junto com toda a sua “élégance” e “know how” empreendedor, pronto para mostrar como o espírito empresarial é a pedra de toque que faltava para o Brasil tirar os pés da lama e avançar nesta segunda quadra do século XXI. Tudo, portanto, muito bonito e bem alinhado, à semelhança do que uma vez foi Fernando Collor de Melo, "o caçador de marajás" e Aécio Neves, “o fator surpresa”. 
 
Os amigos, como se percebe, continuam enganando e se deixando enganar. A autocrítica que vá às favas. 

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