Daniel Costa

27/06/2017 17h33

Sempre achei maneiro aquele pessoal diferentão, que não usa celular e nem gosta de facebook. Uma turma alheia aos modismos tecnológicos, que dá um chute no trivial construindo os seus próprios universos, sem precisar seguir a correnteza das padronizações sociais para viver.

Eu sou incapaz de ser assim. Se o sujeito coloca na internet meia dúzia de fotos tomando cerveja importada na praia de Ponta Negra, ou passeando pelas ruas de Paris sorvendo um cafezinho no Des Deux Moulins, já estou mordendo todos os dedos. Impossível ficar indiferente a esse fato fazendo um tipinho blasé. Sem meias palavras, os meus pensamentos transitam entre o desejo de esmurrar a tela do computador e a mais absoluta inveja.

Diante desse incômodo todo, que acredito não ser somente meu, mas que atinge um punhado de outras pessoas igualmente banais, chego, inclusive, a me perguntar se as redes sociais não são um meio propício para o aumento do número de suicídios. O cara está todos os dias sendo bombardeado por pessoas felizes, que mostram os dentes em largos e infinitos sorrisos, numa espécie de alegria celestial. A gente acessa o facebook e sempre tem uma galera comendo um suculento prato de macarronada, ou de braços abertos nas falésias da Pipa - coisas impossíveis de acontecerem num dia de terça, na vida de um burguês como eu, quando o trabalho e os quefazeres domésticos dão a cor da semana.  Aí cabe perguntar: como fugir dessa ratoeira e não morrer de cobiça?

É por isso que eu queria ser como a Fátima, uma velha amiga do peito, que não dá trela para tolices do gênero. Ela nunca liga para o que os outros dizem e sempre preferiu a companhia dos livros, numa espécie de estratagema para se livrar das agruras causadas pela tecnologia. Deve ser mesmo acalentador acompanhar, por exemplo, a vida de algumas das figuras saídas dos livros de Balzac, tipo o Pai Goriot, que depois de explorado pelas filhas morreu abandonado no quarto de uma pensão barata. Imagine a sensação de alívio quando o leitor percebe estar longe desse tipo de problema. É felicidade certa, mesmo que o dia tenha sido uma droga, e que as contas estejam todas atrasadas, porque o governador achou de não pagar ao funcionalismo público.

Pior é que talvez esse meu olho gordo seja só aquele lance de querer copiar as outras pessoas. Se fulano tá curtindo um pagode no 294, eu também deveria estar por lá, mesmo que não goste nem um pouco de pagode. Acho que eu sou um grande otário. De todo modo, não estou aqui querendo agourar a felicidade alheia e coisa e tal. Longe disso. Apenas coloco a minha inquietude diante dessa condição de homem banal. Fico imaginado como deve ser a vida de um cara que além de banal tem o azar de ser miserável. O sujeito passa o dia flanando pelas ruas à procura de comida e de biscates, tendo que se desviar a todo o momento de anúncios publicitários que escarram consumo nas cabeças dos transeuntes. Será que para essa pessoa é possível existir outra alternativa além de virar assaltante de banco? E se esse cara tivesse acesso ao facebook, não seria suicídio na mesma hora?

Desconfio que sim. Bem por isso, pensando em coisas desse jaez, é que resolvi dar um tempo no mundo virtual. Vou começar a ler Balzac para exorcizar.


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