Daniel Costa

03/05/2017 11h31
O caldo dos  protestos parece haver engrossado. A greve contra a reforma trabalhista tomou conta do país de maneira generalizada. O governo federal tentou articular uma resistência aqui e ali, mas não conseguiu colar o discurso do " Eu vou trabalhar" como contraponto, e o resultado foi a participação de entidades até então afastadas dos atos promovidos pelos movimentos de esquerda. 
 
Esse fato deu uma nova coloração às manifestações contra a administração federal. Policiais, membros do ministério público, OAB, servidores da justiça e entendidas ligadas à igreja, que em sua maioria haviam sido favoráveis ao impeachment, colocaram os pés na rua em expressa manifestação contra o projeto de reforma da legislação laboral, que devasta os direitos trabalhistas num retrocesso poucas vezes visto na história do país. Isso indica uma concreta possibilidade do crescente aumento das ondas de protestos, desaguando, quem sabe, num "Fora Temer" generalizado, muito além, portanto, de um ato grevista contra as alterações da CLT.   
 
É uma aposta. De todo modo, o governo e os seus aliados, de olho nessa possibilidade, imediatamente iniciaram uma contraofensiva, a partir do discurso lançado na grande mídia de que o movimento grevista se resumiu a um punhado de atos de vandalismo, servindo apenas para atrapalhar a rotina do "trabalhador de bem". A partir de agora, devem arregaçar as mangas e levar a cabo a realiza-ção de medidas de afronta direta aos adeptos das manifestações. É de se esperar, com isso, o avanço de práticas "musolínicas", com o uso cada vez mais constante e aberto da mão de ferro do Estado para impedir que esses movimentos se desenvolvam ao ponto de tornar o país incontrolável. 
 
Michel Temer, nesse sentido, já deu clara demonstração de que os anseios da população não são algo a se considerar. Basta lembrar a decisão do Planalto de cortar o ponto dos servidores que aderiram à greve, sob o fundamento de que o governo anterior era "complacente e tolerante". O modo de pensar da turma da situação, aliás, pode ser resumido nas palavras do prefeito de São Paulo, que viu nos trabalhadores que aderiram à greve geral uma turba de "vagabundos", "preguiçosos" e "pelegos". 
 
Não é novidade para ninguém que os afagos dos donos do poder são sempre direcionados à macia cabeleira do grande capital. É de se perguntar, desse modo, quantas paralisações e quanta repressão serão necessárias para se ver avançar ou recuar o movimento de assalto aos direitos de uma enorme parcela da população brasileira. 

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