Democracia
Garnier nega trama golpista e diz que Bolsonaro expressou apenas “preocupações”
10/06/2025 14h29
Por: Hiago Luis
Foto: Gustavo Moreno/STF
O ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, prestou depoimento nesta terça-feira (10) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Garnier, um dos réus do chamado “núcleo duro” da trama golpista, negou envolvimento em qualquer articulação ilegal e afirmou que apenas se “atinha às suas funções institucionais”.
Durante o interrogatório, Garnier confirmou ter participado de uma reunião no Palácio da Alvorada no dia 7 de dezembro de 2022. Segundo ele, o encontro contou com a presença do então presidente Jair Bolsonaro, do ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e dos comandantes do Exército e da Aeronáutica. No entanto, ele negou que tenha sido apresentado ou distribuído qualquer documento impresso com teor golpista.
“Eu não vi nenhuma minuta. Não recebi nenhum documento, nenhum papel. Vi uma apresentação na tela de um computador”, afirmou Garnier, acrescentando que o conteúdo apresentado dizia respeito a manifestações populares e “algumas considerações sobre o processo eleitoral”.
Ele também negou a versão dada pelo ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista Júnior, de que teria colocado as tropas da Marinha à disposição de Bolsonaro. “Não houve deliberações. E o presidente não abriu a palavra para nós”, declarou. “Eu era comandante da Marinha. Não era assessor político do presidente. E me ative ao meu papel institucional.”
Segundo o militar, os assuntos debatidos incluíram a possibilidade de decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), diante da presença de manifestantes em frente aos quartéis e do temor de possíveis conflitos envolvendo caminhoneiros. Ele classificou as falas de Bolsonaro como “preocupações e análises de possibilidades”, e não como uma diretriz clara ou tentativa de ruptura democrática.
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Sobre uma segunda reunião, ocorrida em 14 de dezembro de 2022, Garnier disse que o encontro foi “estranho” e “terminou sem começar”. Ele relatou que o ambiente estava “tenso”, e que o então ministro Paulo Sérgio aparentava estar contrariado. "Estavam os três sentados, essa é a minha lembrança. Quando eu entrei, eu já percebi que tinha havido algum tipo de desentendimento, ou de alguma discussão que tinha acontecido, e a reunião foi encerrada. O ministro não abriu nenhuma pauta adicional, parecia estar chateado e a reunião foi encerrada. Eu não tive nem participação ativa nenhuma dessa reunião, porque eu não vi assunto."
O depoimento de Garnier faz parte da fase final da instrução processual da ação penal conduzida por Moraes, que investiga os principais articuladores da tentativa de golpe, incluindo o ex-presidente Bolsonaro. Também prestaram depoimentos Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator, além do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ).
A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa os réus de integrarem uma organização criminosa com o objetivo de desestabilizar a ordem democrática, desacreditar o sistema eleitoral e impedir a posse do vencedor das eleições. Caso condenados, os envolvidos podem pegar penas superiores a 30 anos de prisão.
Autor: Hiago Luis