Coluna da SPVA

A Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte (SPVARN), é uma associação literária e artística de utilidade pública, democrática, sem fins lucrativos, com 27 anos de existência e 68 associados de importante atuação no meio cultural do Estado. Nesta coluna, dominicalmente os leitores serão contemplados com autores e autoras de diversos estilos e gêneros literários.

Feito dia de domingo – Limite da dignidade: um diário de bordo reflexivo escrito por Marconi Branco

06/07/2025 05h05

 

 

Prezados(as)  leitores(as),

 

Na coluna SPVARN desse domingo, caro(a) leitor(a), trazemos um “chamingo” de cunho social escrito por Marconi Branco.  O autor Marconi da Silva Castelo Branco  é conhecido pelo codinome MARCONI BRANCO. Poeta, cordelista, músico e compositor, é natural  do Rio de Janeiro e Diretor de Eventos da Sociedade dos Poetas vivos e Afins do RN (SPVARN), da Casa do Cordel e da Estação do Cordel e dos Encantadores de Histórias de Extremoz.Vamos ler os registro de nosso autor?

 

 

Num sábado, dia 28 de junho, recebi a missão, pela Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN, de levar minha arte até uma biblioteca comunitária. Depois de colocar o endereço no Google Maps, acompanhado de minha esposa, parti para o local. Para minha surpresa, a biblioteca funcionava em um galpão de um terreno de assentamento do MST. Eu que esperava paredes comuns, deparei-me com pedaços de madeiras e plásticos, como uma “xita”, cada um com sua cor e função, porém todos protegendo o conteúdo.  O responsável pelo evento me recebeu com um sorriso e disse que ia buscar a caixa de som, no que eu o interpelei dizendo que já havia trazido. Naquele momento, uma chuva fina já estava engrossando. Aí eu peguei a minha caixa, o pedestal e o microfone e adentrei a tímida biblioteca, pensando o quão maravilhosa era aquela iniciativa. 

 

Após montar o equipamento, uma moradora se fez de guia de turismo para mim que percorri o assentamento de olhos atentos e arregalados de espanto. Eu, que estudei em escolas públicas e sempre visitava meus amigos nos morros do Rio de Janeiro, nunca vira nada parecido… Nós que enchemos o peito, falando de diversidade, realmente não sabemos o que é isso.  Ali não há luta de classes, ali não há diferenças, ali há uma luta pela sobrevivência, crua, cruel, abaixo da dignidade humana. A cada passo que eu dava, pensava: “Como sou rico, meu Deus”.  A cada viela, minha culpa e minha indignação foram aumentando… Então, me perguntei: onde estão os políticos que sobem nas tribunas para vociferar pela igualdade, ou pior, aqueles fascistas que dizem que há oportunidades para todos? Onde estão os sociólogos, os catedráticos, os empáticos, onde estão? Não estavam lá.  Por ali, havia uma professora, um ex-agente de segurança pública (o anfitrião, por sinal), e a busca por uma cesta básica que seria dada ao fim do evento para quem o assistisse todo. 

 

Provocada por mim, a guia começou a relatar suas dificuldades. Disse que estava com problemas mentais, e que seu sonho era fazer de sua casa uma bodega pra vender uma cachacinha de madrugada, já que a outra bodega da comunidade fechava cedo. Eu, cada vez mais triste, juro por tudo o que é sagrado, que desejei ajudá-la a realizar aquele sonho tão pequeno, tão simples, tão puro. 

 

Ao começar minha apresentação, notei um certo desinteresse do público.  Ao olhar para as suas  vestimentas, percebi que poderiam ser evangélicos. Assim, perguntei: “Quem é evangélico aqui?” Noventa por cento levantou a mão.  Então mudei meu repertório para os tempos de evangélico, porque não há arte sem identificação com o público. Ao cantar “Dilema da Balança”, de minha autoria, notei uma lágrima no rosto de uma senhora, demonstrando que eu estava cantando a história dela, o que para mim já foi a recompensa que eu precisava. 

 

Aquele barracão simbolizava a esperança, e suas paredes de tábuas coloridas simbolizavam a diversidade. Vi muitos brancos, até alvos de olhos claros, ao lado de pardos e negros, todos unidos pela indignidade provocada pelo capitalismo cruel e pela sociedade fria, incapaz de olhar para o outro como ser humano. 

 

Eu tenho esperanças naquele barracão. E rezo aos deuses pedindo que os livros que foram enviados para lá, poucos até agora, possam abrir uma janela de oportunidades.. E conclamo meus pares poetas a pararem de jogar confetes em políticos e em políticas populistas. Bem mais adequado é  colocar a mão na massa, criar rodas de leitura, ajudar com cestas básicas,  promover apresentações artístico-musicais para as crianças. Enfim, qualquer ato em prol de comunidades carentes serve, seja de forma individual ou coletiva. O importante é ter cuidado com o que se posta em redes sociais no sentido de preservar a pouca dignidades das pessoas. 

 

Desculpem o meu desabafo, mas realmente achei necessário. Muito obrigado! 

 

Para conhecer mais sobre a produção literária do escritor Marconi Branco é só entrar em conta-to conosco. Siga-nos em nossas redes sociais. 

 

ATÉ BREVE!

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Revisão: José de Castro

Coordenação da coluna no âmbito da SPVARN: Adélia Costa

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).