Fábio de Oliveira

31/01/2023 10h32

 

Velhos roteiros da destrutiva indústria cultural

 

Não há nada de novo nas indicações às premiações do cinema hollywoodiano. A seleção segue um roteiro de ganhadores previsíveis como sempre, tal como são a maioria das produções cinematográficas estadunidenses. Semana passada, foram apresentados os nomes das indicações e algumas nem deveriam ter sido indicadas, outras foram e outras não. Nessa disputa pelo tão sonhado Oscar, sabemos que a lógica colonial sempre foi dominante e para além de uma mera estatueta, o racismo nunca deixou de operar para além da cerimônia, então porque continuamos nos frustrando?

Já na 95ª edição desse evento, foram poucas as pessoas negras indicadas e premiadas em todas essas edições do Oscar. Em todo esse tempo, cerca de 44 premiações aconteceram, sendo que majoritariamente, ocorreram para atuações coadjuvantes e canções originais. Em 2022, filmes que emocionaram e surpreenderam o público com potentes narrativas e reflexões, ficaram de fora.

Como foi o caso do aplaudido Mulher Rei, dirigido por Gina Prince-Bythewood. Filme cheio de representatividade que evocou a narrativa das guerreiras Agojie e as dinâmicas culturais do Reino de Dahomet e as locações na África. Atuações brilhantes encabeçadas por Viola Davis, além do figurino, da dança e do roteiro praticamente perfeitos. Não menos importante, o filme Não, Não Olhe! sob direção de Jordan Peele, é riquíssimo de críticas dentro de suas narrativas em formato hibrido entre ficção cientifica, mistério e terror que nos desafia para uma compreensão do enredo. Mas que também ficou de fora.

O documentário da nossa Pindorama em coprodução Dinamarquesa com Neidinha Bandeira, Bitaté Uru Eu Wau Wau e Alex Pritz, O Território, por muito pouco, não entrou na lista de indicados. O filme traz um olhar sobre uma situação real e que ameaça os nossos povos e nossos ecossistemas na comunidade Uru-eu-wau-wau. Mas por ter chegado tão longe, o fato é histórico.

Quanto trata-se dos povos indígenas na presença do circuito de filmes e Oscar, não podemos esquecer que foram os filmes estadunidenses que reforçaram e reforçam até os dias de hoje estereótipos sobre nossos povos. Sem falar no protesto não presencial do machista e misógino protagonista do filme Poderoso Chefão, em que a indígena Apache, Sachen Littlefeather foi massacrada pela indústria cultural ao representa-lo na negação da premiação de melhor ator em 1973. Obviamente que para ele, homem cis branco, não resultou em nada. Mas já ela, sofreu uma sequência de ataques das “estrelas” e um pedido de desculpas meio século depois, como se fosse mudar a violência por ela sofrida.

Premiar indígenas e negres significa dar visibilidade e isso jamais será feito por essa indústria cultural cada vez mais racista e colonialista. Precisamos aguçar nossos olhares para uma criticidade não das avançadas técnicas do cinema, mas sobre essa guerra de narrativas que são trazidas, das quais, só violentam e invisibilizam nossos povos e ainda acham que estão fazendo um bom trabalho.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR.

 


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