Fábio de Oliveira

08/08/2022 09h15

 

Conexões pelo etnoturismo

 

Dias atrás abordei um texto sobre as questões do turismo sobre ainda serem trabalhadas por um olhar superficial e colonial, este olhar limitado que oculta nossas origens, formas de coexistir e nossas culturas. Pois bem, nessa semana vou continuar o mesmo assunto, mas por outra perspectiva. Novas experiências ocorreram de lá pra cá, que são fundamentais para a reconfiguração do turismo em nossas terras e olhares acerca de nossos povos.

            Na primeira semana do mês de agosto, o sítio histórico e ecológico Gamboa do Jaguaribe, espaço este em que atuo em diversas atividades, recebeu um grupo de estudantes de intercâmbio. Achava que apenas estariam presentes estudantes canadenses, informação essa passada de forma equivocada. Mas, para minha surpresa, nesse grupo havia pessoas dos mais distintos países: Egito, Indonésia, Índia, Turquia, EUA, Alemanha dentre outros.

            Embora, na ocasião, a presença dos tradutores gerasse certo conforto para traduzir minhas explicações, achei necessário desengavetar meu inglês para tal momento e ter voz naquele momento. Bom, falo o suficiente para manter uma conversa, mas mesmo diante de alguns pequenos percalços linguísticos, a condução dos diálogos sobre as nossas narrativas e o que era o “Brasil” que os estudantes conheciam lá fora foi realizada com sucesso.

            Ali estávamos receptivos para falar sobre os aspectos das nossas culturas, lutas e preservação do meio ambiente. No entanto, ocorreram momentos em que foi inevitável silenciarmos um pouco para ouvir e compreender, naquele momento, as bagagens culturais de alguns estudantes sobre povos originários de alguns países, assim como aspectos geográficos, sociais e culturais em constantes movimentos, compartilhados em uma trilha pela Mata Atlântica.

            Fomos até a ilha do cajueiro em cinco canoas, navegando pelas águas tranquilas do Rio Jaguaribe. Na canoa em que eu estava sendo guiado pelo pescador e intelectual Erivan Vitaliano, também estavam os egipcíos Philo Ayad, Karma Hashadd e Menatallah Mohamed. Durante nossa travessia, retornando ao Gamboa, dialogamos sobre os rios da Pindorama e do Egito, sobre espiritualidades, idiomas e músicas entre os dos países. Entre uma cantoria de música árabe e potiguara, regressamos de volta às margens do rio e tal momento foi de uma troca cultural importantíssima, sem falar nas moedas entre os dois países que trocamos para um presente já garantido para minha companheira e intelectual Ana Paula Campos.

            Essas conexões pelo etnoturismo para o público de fora geram diálogos, conhecimentos e trocas sem igual e de muita importância para ambos os lados. Aprender uma canção árabe e ensinar uma canção potiguara dificilmente ocorreria na orla de Ponta Negra ou algum lugar similar, e esses intercâmbios proporcionam uma compreensão sobre nossas realidades e também de aprendizados.

           

           

           

           

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).