Fábio de Oliveira

15/08/2022 11h40

Desfolclorizando

 

Agosto chegou e lá vem o tal "Dia do Folclore", que, mesmo em pleno 2022, os livros e as instituições de ensino público e privado ainda insistem em reproduzir nossos Encantados como personagens folclorizados. Como se isso não bastasse, não colocam em prática a Lei 11645/08 – que trata da obrigatoriedade de discutir sobre culturas e histórias afro-brasileiras e indígenas em sala de aula –, a partir da nossa versão da História.

 

Nosso Curupira, Caipora, Comadre Fulozinha, Iara, Boitatá e tantos outros Encantados são cultuados por nós com respeito e não merecem serem reduzidos a partir da mera imaginação estereotipada, trabalhada em um dia que ficou conhecido como sendo o dia da cultura popular. As culturas dos nossos povos são riquíssimas e muito vastas para limitarem-se apenas a esse dia.

 

Façamos um esforço para compreender as nossas culturas. O Dia do Folclore foi criado a partir de olhares e narrativas coloniais de pseudointelectuais sobre nossos povos que afetam nossos sagrados. Essa data só contribuiu para as manutenções do extermínio dos nossos povos.

 

Esse "Brasil" folclorista distorce as expressões culturais dos nossos povos cujo preconceito promovido pelo colonialismo atravessa nossa sociedade. Ainda estamos nesse mal do olhar desfocado e de reações estranhas sobre as expressões, as diversidades, as riquezas das culturas originárias e das comunidades culturais autônomas.

 

Os colonizadores tentam impor uma cultura que se quer universal, mas já estamos observando que não está dando certo faz tempo! Mesmo com todas essas investidas, nossos povos originários permanecem de pé, não foram vencidos e nossas expressões culturais também ainda permanecem; também permanecem nossas crenças, artes e cosmopercepções do mundo. O colonialismo fracassou, apesar das sequelas de hoje. Descolonizar é um ato político necessário e urgente para que nossas existências sejam mantidas.

 

É importante tensionar: como as escolas públicas e privadas têm pensado sobre uma perspectiva decolonial?; como têm atuado na construção do novo?; quais contribuições estão sendo construídas para superar a estrutura mental colonial e os equívocos pedagógicos em que ainda insistem os educadores na maioria das escolas?; qual o temor em se comprometer com transformações educativas no presente?

 

Ainda há tempo de saber e entender as histórias e nossas diversidades culturais a partir das nossas vozes. Procurem e leiam autores indígenas! Estudem e se informem! Essa é a forma que temos de combater o extermínio dos povos pelos quais lutamos por mais de 500 anos.

 

Folclorizar nossas culturas é colaborar para a nossa morte!

 


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