Pinto Júnior

17/02/2021 13h55

 

Pandemia, arte e vida

 

Com razão, já foi dito que durante o período de pandemia, a arte está sendo a grande companheira no período de isolamento social. Amigos me falam de livros, filmes e músicas. Algumas obras já esquecidas, voltaram às mãos e mentes.

 

Já não lembrava de uma música do Raul que cantarolava quando jovem: O dia em que a terra parou. Raul se dizia maluco, hoje sabemos que era também profeta: “Eu tive um sonho de sonhador| Maluco que sou, eu sonhei|Com o dia que a terra parou|O LP é de 1977, a Covid fez a terra parar em 2020.

 

Nesta letra, Raul escreve e canta que neste dia, como se fosse combinado ninguém sai de casa. “O empregado não saiu pro seu o trabalho|Pois sabia que o patrão também não tava lá.”. Não foi isto que aconteceu com os bares e restaurantes?

 

Continua Raul: “E nas igrejas nem um sino a badalar|Pois sabiam que os fiés também não tavam lá”.  No início da pandemia, alguns até tentaram, mas sabiam que a salvação era o isolamento.

 

A voz do artista é antecipa a situação dos professores que estão obrigados e se transformarem em YouTubes, fazendo aulas a distância. “E o aluno não saiu para estudar| Pois sabia que o professor também não tava lá”. A música fala no dia que a terra parou. A planeta não parou completamente, mas mudou de ritmo há quase um ano.

 

Nos anos 80, a morte atendia principalmente pelo nome: Aids. O cantor Cazuza havia saído do conjunto Barão Vermelho e fazia muito sucesso. Ao contrair Aids, começou a morrer nas primeiras páginas dos jornais, nas capas das revistas semanais e nos telejornais. Lutou, escreveu e cantou: “Senhoras e senhores| Trago boas novas| Vi a cara da morte e ela estava viva- Viva!”. Nada pôde salva o poeta dos anos 80.

 

O contágio da Aids era pela transfusão de sangue e relação sexual. A arte de Lulu Santos trazia uma esperança em forma de música. “ Existirá, em todo porto se hasteará| A velha bandeira da vida| Acenderá, todo farol iluminará | Uma ponta de esperança”.

 

A arte de Lulu Santos que gritava pela “cura” aids, que hoje já não mata como antes, ilumina de esperança os confinados que esperam a vacina. “Existirá|E toda raça então experimentará| Para todo mal, a cura”. Para a Covid, a vacina representa a prevenção. A cura pela imunização.

 

No texto Cruz e Souza: Poesia para todos, Elizabete Nunes, ao defender o translado dos restos mortais do poeta simbolista do Rio de Janeiro para o Santa Catarina, argumenta: “Se a cultura, a arte, a música e a poesia perderem seu lugar na sociedade, esta se desumanizará”. Logo é certo dizer; durante a pandemia a arte humanizou o isolamento. Nas palavras do escritor Aldous Huxley: “Todo aquele que sabe ler tem nas mãos o poder de se magnificar, de multiplicar as maneiras por que existe, para tornar a vida integral, significativa e interessante”.

 

Na TV, o historiador e escritor, Leandro Karnal, sugere poesia no isolamento para enfrentar a pandemia. Já o poeta Ferreira Gullar, disse que “a arte existe porque a vida não basta”.

 

João Guimarães Rosa dizia que as “pessoas não morrem, ficam encantadas”. O gênio e arquiteto Oscar Niemeyer, dizia que “a vida é um sopro. Um momento. A gente vem aqui, conta uma história e vai embora”. Este repórter roga que o leitor passe escape da Covid e conte sua história. Assim como o arquiteto que viveu 104 anos. Amém!

 

Nota: A Covid -19 nos obrigada um carnaval sem festa e sem aglomeração. Sem a alegria da dança e do abraço. Mas, com diz Chico Buarque” “Amanhã será outro dia.”


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