Cefas Carvalho

01/07/2020 00h02
 
O semestre que não existiu. Ou... muito pelo contrário!
 
 
Então é isso, chegamos ao 1 de julho, início do segundo semestre. Terminou o primeiro semestre de 2020, mais da metade dele confinados e assustados com um vírus letal e sem cura. Em meio à politização da doença, fake news sobre remédios "milagrosos", mortes de pessoas próximas e o enfado natural de tantos dias trancados em casa ou, pelo menos, sem vida social ou a vida que costumávamos ter.
 
Percebo muita gente afirmando o que eu mesmo pensei: Este primeiro semestre não existiu! Celebramos a virada de ano, emendamos no carnaval e quando o ano iria realmente começar, chegou março com a pandemia e o necessário isolamento. E acabou o primeiro semestre sem que tivéssemos realmente começado o ano, sem termos colocado em prática o que planejamos, em sumam sem termos vivido.
 
Não é estranho pensarmos assim. Fizemos todos muitos planos, e boa parte desses planos envolvia questões coletivas, sociais, externas. Portanto, projetos que foram necessariamente afetados pelo isolamento oriundo da pandemia.
 
Mas, por outro lado, podemos realmente pensar que o semestre não existiu e que perdemos, digamos, estes meses confinados? Ou será que, pelo contrário, foram alguns dos meses mais intensos e que deixarão lembranças e marcas em todos nós?
 
Não se trata aqui de fazer o jogo do contente da Poliana, não tenho essa vocação e estou mais para o pessimismo filosófico de um Diógenes. Mas, justamente fazendo uso dessa visão filosófico, posso convidar para uma avaliação mais rigorosa de como foram estes meses de distanciamento social. Não se trata de afirmar que foram "bons", nada desses termos de auto-ajuda aqui. Trata-se de afirmar que eles existiram, que, à maneira deles, foram e estão sendo intensos e que vão deixar marcas.
 
Claro que cada um tem sua experiência pessoal e particular, emocional ou estrutural de confinamento. Não se pode comparar o isolamento social de uma família de seis pessoas na periferia com a de um casal sem filhos em bairro classe média ou alta. Idem em relação à percepção emocional de cada um. Tem gente que luta contra ansiedade e problemas emocionais diversos cotidianamente, enquanto outros se comprazem em fazer pão e assistir o catálogo inteiro da netflix. Não há certos e errados, cada um se vira e vive como pode (e quer).
 
Porém, justamente por causa disso, a experiência de isolamento e mesmo da equação medo + cuidados, faz com que tudo tenha ganhado mais valor e importância. Cuidados básicos como lavar as mãos e produtos ganharam status de garantir não ser infectado. Relações humanas ganharam novos status. Redes sociais ganharam tom mais humano de maneira geral e menos inquisitório. Enfim, estamos todos nos adequando, ou tentando, à nova realidade e isso torna a nossa experiência coletiva ainda mais marcante. E essas marcas vão perdurar quando sairmos dessa, no chamado pós-pandemia, com ou sem vacina.
 
Em suma, esse semestre não apenas existiu como deixará marcas em todos nós. Ainda que confinados e com medo. 
 

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