Cefas Carvalho

12/02/2020 00h24
 
Ladies free, Off, Delivery: O inglês que domina a linguagem cotidiana
 
 
Nos anos 2000 ainda no Potiguar Notícias impresso, escrevi na minha coluna um texto intitulado "Ladies free", na qual eu tirava onda com o excesso de termos de inglês, já que o cartaz de festa onde eu havia lido o aviso que deu nome à crônica queria simplesmente dizer: "Mulher não paga".
 
Hoje, percebo que este cenário está ainda mais acentuado. Passeando pelos corredores dos shoppings lemos dezenas de lojas com cartazes "50% Off". Traduzindo: "Desconto de 50%", ou para ser ainda mais brasileiro, "Pela metade do preço".
 
Outra palavra em língua inglesa que virou febre é "Delivery". O termo "Entrega a domicílio" simplesmente desapareceu. Qualquer serviço oferecendo a entrega na resid~encia da pessoa é "Delivery".
 
Estes são apenas alguns de dezenas de casos. Não quero ser o chato defensor intransigente da última flor do lácio, inculta e bela, como descreveu Olavo Bilac a língua portuguesa. Sei bem que estrangeirismos enriquecem o idioma e que a linguagem cotidiana é dinâmica e aglutinativa. Mas, por vezes vejo excessos que mais parecem deslumbramento com a língua inglesa, deslumbramento este mais por causa dos EUA do que da Inglaterra, diga-se.
 
É totalmente compreensível que da tecla "Del" do teclado de computador tenha nascido a palavra "Deletar", da mesma maneira que nos EUA os mexicanos e porto-riquenhos residentes no país criaram do verbo "To park" (estacionar), o neologismo "Parkear". Porém, já não é tão compreensível que em um evento (que geralmente é chamado Workshop) tenha que se fazer um "Coffee break" em vez de "Pausa para o café". 
 
Enfim, não sou estudioso das nuances do tema, percebo e escrevo com olhos de cronista e curioso, mas parece haver uma nítida distinção do que é incorporação de estrangeirismos (como as palavras francesas sutiã e abajur no início do século passado) do que é só deslumbramento mesmo. 
 
Lembrando que em Natal o termo "boyzinha" para se referir a meninas já está mais que incorporado pela juventude. Neste tipo de dinamismo na linguagem, nem há do que reclamar, melhor assimilar e entender a sua organicidade. 
 

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