Cefas Carvalho

23/01/2019 00h18
 
E se fosse Natália Bonavides e não Styvenson dançando no show do Grafith?
 
 
Imagine a cena: A deputada federal diplomada Natália Bonavides sai da casa de um parente na Praia de Pirangi e vê a banda Grafith, conhecida tanto pelo talento e repertório diversificado como pelas canções populares chulas e machistas. Empolgada, se junta à banda, conversa com os vocalistas, pede música e tira a camisa, se deixando fotografar de biquini.
 
Você, leitor e leitora, eu e as folhas do Cajueiro de Pirangi sabemos qual seria a repercussão e, principalmente, quais os termos usados na reação. Questionaram a credibilidade, a seriedade, a capacidade, colocariam em xeque o mandato dela, fora os termos grosseiros que mulheres geralmente sofrem nesses casos.
 
Mas, como o leitor ou leitora já deve ter percebido, a história acima realmente aconteceu, mas, não com Natália, usada aqui apenas para fazer um contraponto, mas, com o senador diplomado Capitão Styvenson Valentim, o mais votado na sua faixa, nas eleições de 2018 no Rio Grande do Norte.
 
Na quinta-feira, 17, na praia de Pirangi, em Parnamirim, Styvenson percebeu, andando na rua ensaio da popular banda Grafith, para gravação de um programa de TV.  O "capitão da lei Seca" foi ao encontro da banda, segundo foi veiculado na imprensa, bateu papo com os vocalistas e pediu a música “Me chama de my love”, aproveitando para tirar a camisa dançar, dedicando a performance à sua esposa, Candice.
 
Inclusive o próprio Styvenson fez vídeo do momento e postou no seu Instagram com a legenda: “@candyssemedeiros me chama de my love . Valorizando o que é nosso . Dei sorte hoje encontrei a @grafithoficial em Pirangi praia e pedi música”. Segundo o portal OP9, em 20 minutos, o vídeo já tinha sido visualizado quase 8 mil vezes e comentado por 169 pessoas, muitas delas elogiando a espontaneidade dele.
 
Curioso, pesquisei nas redes sociais e nos portais a reação dos internautas à ação do senador. Boa parte delas positiva realmente, elogiando a postura. Quando algum criticava, diversos apoiadores dele rebatiam com frases como "Melhor dançar sem camisa do que roubar" ou "Ele está de férias, tem direito de se divertir".
 
Aqui comigo, até concordo. Não sou de julgar ninguém, muito menos por razões de ordem moral/comportamental, mas fica a pergunta-provocação do início: E se fosse uma mulher fazendo o que Styvenson fez e coloquei Natália por ser da faixa de idade de Styvenson e assim como ele em plena ascensão política: Qual seria a reação? Os internautas usariam da mesma complacência, compreensão e palavras de incentivo.
 
Sabemos que não. Que a cobrança - moral inclusive, ou principalmente - seria muito maior. Usariam de frases como "isso não é postura de deputada" ou "pouca vergonha uma deputada se expor desse jeito".
 
Basta ver o tratamento que, por exemplo, recebem Manuela D´ávila e políticos como Haddad e Ciro Gomes. Aos marmanjos, a critica é sempre política e envolvendo "roubo" ou "corrupção". Com Manuela, pelo menos 70% das críticas envolvem machismo em algum grau,
 
A esse tratamento diferenciado se dá o nome de "questão de gênero". Que nada tem a ver com a tal "ideologia de gênero", algo inexistente que a Direita brasileira insiste em se colocar contrária. Discutir gênero é justamente isso: Entender porque alguém recebe tratamento diferente por ser de sexo masculino ou feminino e debater questões envolvendo preconceitos justamente em relação à sexualidade, enquanto gênero. Deve sim, ser discutido nas escolas, para que no futuro cidadãos e cidadãs tenham percepção igual de um moçoilo, senador ou não, tirando a camisa num show e uma mulher fazendo a mesma coisa. 
 

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