Prof. Aderson Freitas Barros

18/12/2017 10h46
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, chamou o bitcoin de “bolha” e “pirâmide”, no mais forte alerta feito pela autoridade contra a nova mania que vem atraindo um número crescente de investidores no mercado financeiro. 
 
O aviso foi dado em entrevista que anunciou novas frentes na agenda de regulamentação bancária, incluindo um reexame dos depósitos compulsórios e estudos mais aprofundados para reformar o mercado de cartões de débito.
 
“Não hipoteque a sua casa para comprar essas moedas virtuais”, disse Ilan, pontuando que investidores estão aplicando nas bitcoins com a pura expectativa de vendê-las a preços mais altos no futuro. “É a típica bolha, a típica pirâmide, que em algum momento vai deixar de subir e vai voltar [a baixar]”.
 
O presidente do BC procurou diferenciar as moedas virtuais de outras tecnologias novas desenvolvidas pelas chamadas “fintechs”, empresas que estão inovando para prestar serviços financeiros relevantes. Também ressaltou que a tecnologia das moedas virtuais, conhecida como blockchain, poderá ser utilizada para outros fins.
 
Ilan alertou que as moedas virtuais em si, que registraram alta vertiginosa, representam riscos enormes para investidores porque “não têm lastro, não tem um banco central por trás, ninguém para defender o investidor e para regular”.
 
O BC já havia emitido dois comunicados apontando riscos nas bitcoins, inclusive seu uso para atividades ilegais, mas não havia sido tão vocal na sua condenação, como Ilan fez ontem, em entrevista em que prestou contas da execução da política monetária, cambial e regulação, além de fazer um balanço da agenda de reformas conhecida como “BC+”.
 
Neste ano, a cotação do bitcoin, a mais conhecida das moedas virtuais, teve alta de mais de 1.500%, chegando a uma capitalização de mercado de mais de US$ 280 bilhões. Nas últimas semanas, a procura por essa e outras moedas virtuais se tornou explosiva, com corretoras não conseguindo atender à demanda por novos interessados. No Brasil, as maiores corretoras mostram giro na casa dos R$ 80 milhões por dia.
 
Depois de fazer um balanço das ações do ano, como adoção da Taxa de Longo Prazo (TLP), do novo marco punitivo do BC, das regras para o rotativo do cartão e da liquidação centralizada nesse mercado, Ilan anunciou que a autoridade monetária vai fazer estudos sobre os compulsórios e disse que “precisamos convergir para níveis inferiores”.
 
O presidente do BC argumentou que a eventual redução dos depósitos compulsórios não deverá competir com a ação de política monetária, já que teria foco estrutural de longo prazo, pensando na redução do custo do crédito e do custo administrativo dos bancos. Ao longo de 2017, o BC simplificou a forma de o sistema cumprir as regras de recolhimento compulsórios, que estavam dispersas por mais de 80 normativos.
 
O estoque desses depósitos gira em torno dos R$ 400 bilhões, algo como 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB), e é considerado elevado em comparação com outras economias emergentes. Recente trabalho para discussão, publicado no site do BC, mostrou que alíquota média no Brasil ficou ao redor de 23% do total de depósitos sujeitos ao recolhimento (à vista, a prazo, poupança e adicionais) entre 2008 e 2015, enquanto a média dos demais emergentes foi de 15%, e dos países desenvolvidos fica em 5%. O estudo também mostrou que a redução da alíquota de compulsório tem impacto duas vezes maior sobre a oferta de crédito do que quando se faz um aumento dessas mesmas alíquotas.
 
Ilan anunciou ainda que o BC vai trabalhar para diminuir o custo do cartão de débito, sem dar detalhes das possíveis mudanças. A ideia é estimular o uso do débito, que ainda segue restrito a operações de baixo valor, reduzindo o uso de cheques e dinheiro vivo.
 
Ilan classificou 2017 como um ano “proveitoso”. “Tivemos combinação rara de redução significativa da inflação, queda substancial do juro para mínimas históricos e uma recuperação da economia, já disseminada após dois anos de recessão. Considero que esses três fatores são extremamente relevantes para descrever o ano que se passou. Valor econômico.
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).