Cefas Carvalho

24/04/2017 23h55

É certo que a lista divulgada pelo ministro do STF Luis Fachin autorizando investigação sobre 108 políticos brasileiros de diversos partidos caiu como uma bomba no mundo político. E também sobre a opinião pública, já tão descrente da classe política.

Lista esta que NÃO caracteriza que todos os ilustres citados são criminosos. É certo que alguns entre eles são bandidos daqueles de se prender e jogar a chave fora. Outros podem estar envolvidos de forma indireta ou entraram no balaio por causa da captação de recursos para campanhas, enfim.

Quem acompanha o que escrevo sabe que critico duramente o pré-julgamento e a precipitação nestes tempos de Tribunal de Facebook e facilidades para se agredir verbalmente pessoas que sequer conhecemos.

Quero a lei igual para todos, para mim, meus filhos, meus inimigos, o vizinho chato, os políticos e os marginaizinhos de rua. Todos com o mesmo tratamento: criminosos após as provas, julgamento justo e a condenação da Justiça. Antes, não.

E vejo com muita preocupação este balaio de lama na qual os políticos, como um todo, estão sendo jogados.

Claro que desanima qualquer cristão (e qualquer não-cristão) ver diariamente políticos de diversos partidos - PMDB, PSDB, PT, PP, PR, PSD, DEM, PTN etc etc - e de todos os estados (incluindo os potiguares Garibaldi Filho, José Agripino, Robinson Faria, seus filhos Walter, Felipe e Fábio, Rosalba Ciarlini) envolvidos com dinheiro ilícito, Caixa 2 e corrupção.

Mas, a verdade é que há muitos que não estão citados em nenhuma lista de corrupção. E há aqueles citados na qual o dinheiro não parece ter ido para suas contas pessoas e sim para o partido fazer a campanha, de maneira que eles mal souberam de onde vinha os recursos.

O fato é que esse desencanto com a classe política pode fazer surgir o "não político", Que é tão perigoso quando o político. Porque faz política fingindo não fazê-la. E posa de vestal do templo, de superior aos outros por não "chafurdar na lama".

Um equívoco. Toda ação social é um ato político. A forma como lidamos com os companheiros de trabalho é política. Organizar os times do final de semana no campeonato do bairro sem que haja brigas, é fazer política.

Os "não-políticos" querem passar a sensação de que não fazem política. Sem faze-la eles não dirigiriam um clube de futebol de botão de bairro.

Em 1989, tivemos um "não-político", Fernando Collor, e deu no que deu.

Hoje temos alguns "não-políticos" que se destacam, como João Dória, que foi eleito prefeito de São Paulo com este discurso e Bolsonaro, aquela criatura abominável que faz do ódio e do preconceito uma bandeira política (pois é, política).

O crescimento deles é o efeito colateral da repulsa aos "políticos profissionais". Fenômeno que aconteceu nos EUA, quando o "não-político" Trump venceu a "política profissional e sem credibilidade" Hillary Clinton.

Em 2018, confiar o voto aos supostos "não-políticos" para evitar votar nos políticos convencionais dos partidos envolvidos com corrupção, é como para evitar os lobos, confiar no lobo vestido de cordeiro.


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