Cefas Carvalho

26/08/2016 13h05
O amigo leitor e a amiga leitora devem se lembrar que antes mesmo das Olimpíadas do Rio, o ilustre ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que os homens procuram menos o atendimento de saúde porque "trabalham mais do que as mulheres e são os provedores" das casas brasileiras. Ele também afirmou que os homens "possuem menos tempo" do que as mulheres.
 
Criticado até pela própria filha, divulgou depois uma nota à imprensa em que "pede desculpas se foi mal interpretado".
 
Aí começaram os jogos da Rio 2016. Nas quartas de final do futebol feminino teve aquele jogaço entre Brasil x Austrália decidido nos pênaltis com duas defesas da goleira Bárbara, lembra? Pois é. Lembro também de um certo Marcos Clay, membro do Conselho Federal de Administração (CFA) que numa postagem sua no Facebook, comentou: "Eu odeio preto, mas essa goleira do Brasil tinha chance".
 
O infeliz conseguiu a façanha de juntar racismo, machismo, sexismo e grosseria ao mesmo tempo. Duramente criticado, ele se defendeu e disse que tudo "não passou de uma brincadeira, fui mal interpretado".
 
"Foi uma brincadeira de mau gosto, até já tirei o post. Uma brincadeira que infelizmente algumas pessoas se ofenderam, mas não era minha intenção. Tanto é que minha esposa é negra, todo mundo sabe disso. Quem me conhece sabe que eu não sou racista, tenho vários amigos que são negros, não tenho problema com isso", afirmou Clay.
 
"Uma pessoa pegou meu post e republicou dando uma conotação de racismo. Deve ter alguma coisa contra mim. Já fiz uma retratação dizendo que era uma brincadeira. O povo de hoje está muito melindrado, ninguém pode mais falar nada nas redes sociais que vira polêmica. Não ofendi ninguém diretamente, não citei o nome de ninguém. Tudo bem que foi um comentário infeliz", finalizou Clay.
 
Na mesma época, outro caso de "mal entendido": assim que o ginasta Arthur Nory ganhou a medalha de bronze, vieram á tona comentários racistas que ele fez num vídeo que acabou ganhando repercussão na internet sobre o seu então companheiro de equipe, Ângelo Assunção, em 2015. Acuado, Nory se defendeu, pediu desculpas a quem possa ter se ofendido com o video. "Todos cometem erros. Eu cometi, mas realmente me arrependi. Sofri muito e me arrependo até hoje, porque estou sem patrocínio, nada. Foi uma fatalidade"
O agredido, Ângelo disse que "não tenho mágoas dele, de verdade. Inclusive somos muito próximos. Torci muito por ele. Tenho muito orgulho do Nory. Agora eu espero que ele seja um medalhista também fora do tablado". Em um tom que não parece acreditar no arrependimento do ginasta.
 
Por que correlacionar os três casos, de Ricardo Barros, Marcos Clay e Arthur Nory?
 
Por uma razão: pelos pedidos de desculpas dos três.
 
Nos três casos, eles pediram desculpas públicas e garantiram arrependimento, mas, sempre deixando claro que nós é que os interpretamos errado.
 
Ou seja, eles pedem desculpas, sim, mas tentando deixar bem claro que quem se ofendeu, quem os criticou é que são "exagerados", talvez, "que vemos maldade em tudo", provavelmente, e, na pior das hipóteses, já que não sabemos interpretar suas palavras, é que somos burros.
 
Sempre tive um pé atrás com quem se defende de algum tipo de acusação dessa forma: "Peço desculpas se ofendi alguém".
 
As desculpas são válidas quando a pessoa tem a convicção que ofendeu alguém. Sabe quem ofendeu e por que, e recorre ao pedido de desculpas.
 
Errar é humano. Admitir o erro, mais humano ainda. Pedir desculpas insinuando que as outras pessoas é que são tapadas, também é humano, mas, não pega bem e é calhordice.
 

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