Cefas Carvalho

03/02/2016 16h10
O projeto Quinta Literária, organizado pelo escritor e pesquisador Thiago Gonzaga na Livraria Nobel reúne no citado dia da semana literatos e pessoas ligadas à cultura para debater com os frequentadores do local. Na quinta passada, dia 20, o projeto deu um salto ambicioso ao levar para o evento o prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves, juntamente com seu ex-chefe de gabinete e hoje diretor da Urbana Sávio Hackradt. O presidente da Funcarte, Dácio Galvão, muito aguardado, tinha a presença confirmada mas teve um problema pessoal de última hora e foi ausência sentida.
 
Carlos foi recebido pelos frequentadores que lotaram a livraria com entusiasmo (de alguns) e ceticismo (de outros). Até os postes de Natal sabem que o prefeito, não obstante suas qualidades, não tem o dom da oratória. Falou durante muito tempo sobre os livros que estava lendo, sobre sua amizade com os artistas nacionais, sem muitos dados numéricos ou técnicos enalteceu a programação do carnaval e o que já fez ou teria feito pela cultura natalenses e só empolgou mesmo no final, quando a coisa foi para um bate papo e para questionamentos direitos ao alcaide, que se comprometeu e discuti-las todas com o citado Dácio. Enfim, pela coragem de ir a uma livraria numa quinta a noite se arriscar a ouvir cobrança de escritores e poetas, já vale a iniciativa.
 
Mas, quando Carlos teve de ir, motivado por outro compromisso, Sávio Hackradt deu continuidade ao bate papo com o pessoal que permaneceu na sala. Aí o negócio ficou mais interessante, pois Sávio parecia mais apto a ouvir com atenção os pleitos do pessoal para debate-lo a fundo, estudando a viabilidade (ou não) de cada um deles.
 
Como seria de se esperar, os temas se expandiram. Um deles chamou particularmente minha atenção. Indagado sobre a questão do lixo (afinal é a pasta ocupada por ele atualmente) enquanto questão de cidadania, Sávio registrou que anualmente apenas para retirar dejetos e detritos de terrenos baldios, a urbana gasta R$ 15 milhões, registrando que - como pouca gente sabe - a Urbana tem a função prevista legal, regimental e orçamentariamente de coletar o lixo urbano, aquele lixo residencial. "Não é nossa função, mas alguém quem que retira-lo. E sabemos que tem que ser a Urbana", desabafou Sávio.
 
A partir deste raciocínio, debateu-se sobre o hábito natalense de depositar dejetos em lugares públicos e/ou alheios. Ora, se o lixo é produzido por uma pessoa, uma família, que ele seja colocado no lugar adequado em frente à residência ou lixeira coletiva, se prédio ou condomínio, para ser coletado pelos carros da Urbana. Se estes não passarem nos dias agendados, aí justifica-se reclamação.
 
Caso os dejetos venham de obra de maior porte ou similar, o correto seria o gerados dos detritos providenciar sua retirada para lugar adequado, orientado pela Urbana. Ah, mas tem aquele terreno baldio ali na esquina. Pois é. Retirar aquele lixo daquele terreno gera um trabalho x que por sua vez gera um custo y. E, adivinhe de onde sai este dinheiro - os tais R$ 15 milhões a mais - para retirar o lixo que fulano ou beltrano colocaram?
 
Sávio aproveitou inclusive a presença de um funcionário da Urbana no debate para registrar que muitas vezes os lixos não são devidamente acondicionados, de maneira que ferem os garis que recolhem o lixo. Ah, mas por que eu vou perder meu tempo colocando o copo quebrado em jornal, não é? Os garis que se protejam. Pois é, cobrar cidadania e um país melhor - desde que comece sempre nas esferas superiores, preferencialmente Brasília, claro - é fácil. Fazer cidadania pensando na segurança e na saúde do profissional que coleta o lixo já complica. 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).