Wellington Duarte

Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels

Imperius Rex: Trump quer o Brasil como seu “quintal”

16/07/2025 11h42

 

O conceito moderno de imperialismo surgiu na Era Vitoriana (1837-1901), período em que a Grã-Bretanha dominava literalmente o mundo, via armas, política comercial e imposição cultural. O termo foi originalmente introduzido no inglês, em seu sentido atual, no final da década de 1870, por oponentes das políticas imperiais agressivas e ostensivas do primeiro-ministro britânico Benjamin Disraeli (conservador).

Historiadores e teóricos políticos há muito debatem a correlação entre capitalismo, classe e imperialismo. Grande parte do debate foi iniciada por teóricos como John A. Hobson (1858-1940), Joseph Schumpeter (1883-1950), Thorstein Veblen (1857-1929) e Norman Angell (1872-1967), nenhum deles marxista.

Em “Imperialismo: Um Estudo” (1902), Hobson desenvolveu uma interpretação altamente influente do imperialismo, que expandiu sua crença de que o capitalismo de livre iniciativa tinha um efeito prejudicial sobre a maioria da população, exatamente porque a exploração das massas trabalhadoras dos países submetidos aos imperialistas, sustentavam o crescimento da “metrópole” via lucros excedentes gerados, na maioria dos casos, pela exploração direta da potência dominante. Não era marxista.

Os marxistas europeus adotaram as ideias de Hobson e as incorporaram à sua própria teoria do imperialismo, notadamente em "Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo" (1916), de Vladimir Lenin, que retratou o imperialismo como capitalismo monopolista em nível global, resultando em expansão colonial para garantir o crescimento econômico e os lucros capitalistas. Teóricos marxistas posteriores ecoaram essa concepção do imperialismo como uma característica estrutural do capitalismo, que explicou as guerras mundiais como a batalha entre imperialistas pelo controle dos mercados externos.

Bem, o que os EUA estão fazendo, nesse momento, contra o mundo, me parece uma desesperada tentativa de retomar o controle mundial, que está vendo esse poderio decair. Os EUA, que nunca foram um exemplo de respeito a soberania dos outros países, bastando ver como roubaram, na cara dura, vasta extensões de terras do México, no século XIX; e a política do “big stick”, estabelecida pelo presidente Theodore Roosevelt (republicano), presidente entre 1901 e 1909, segundo a qual os EUA deveriam exercer a sua política externa como forma de deter as intervenções europeias, principalmente britânicas, no continente americano, ou seja, transformar o continente americano como seu “quintal”. E assim o fez.

Portanto, nenhuma novidade dessa política agressiva de Trump. O que estamos apreensivos, pelo menos parte do mundo, é que esse tresloucado tem poder militar suficiente para provocar uma catástrofe global e nada garante que ele não se tornará mais agressivo, à medida em que for derrotado, e será, nessa sua “cruzada comercial”. Hoje, 2025, os EUA têm um adversário à altura que, ao invés de usar armas, usa a diplomacia como a principal arma e cuja base econômica está, ao que parece, melhor alicerçada do que a economia norte-americana, que vive em constante turbulência e este adversário está cada vez mais reunindo, em torno de si, países que estão se distanciando, pelo menos comercialmente, do “Grande Irmão do Norte”.

Trump, ao atacar ferozmente o Brasil, num movimento diplomático inédito, condicionando a melhoria das relações comerciais à soltura do Boca Podre, mostrou, especialmente para os empresários, que vivem flertando com a extrema-direita, o quanto é letal a política de Trump para os seus interesses e estes reagiram.

Um conflito inédito, a “guerra das tarifas”, é uma forma nova de imperialismo agressivo, mas é apenas uma forma, e isso significa que as armas de que dispõe Trump ainda estão à sua disposição. O mundo, de fato, sofre um ataque global de uma potência decadente que ainda ter força para estremecer as economias mais fracas.

Internamente a vergonhosa posição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acoelhando-se a Trump, só foi superada pela inacreditável demonstração de subserviência, feita pelo Boca Podre, em entrevista ao Poder 360 e me permitam transcreve-la:

“Eu sou apaixonado por ele, pelo povo americano, pela política americana, pelo país que é os Estados Unidos. Eu nunca neguei isso desde meu tempo de garoto. O Trump sempre soube disso. Ele me tratava como um irmão. […] Tenho profunda gratidão por ele. Tivemos um excelente relacionamento. Fizemos planos. Parece que estávamos até namorando. Fizemos muitos planos para o Brasil na questão dos minérios”. (https://www.poder360.com.br/poder-internacional/eu-sou-apaixonado-pelo-trump-afirma-jair-bolsonaro/)

É preciso dizer mais alguma coisa? Você, leitor, já viu algum presidente ou ex-presidente da república, descer a um nível de subserviência tão baixo, tão ridículo. O Império tem seus lacaios e alguns deles deambulam por nosso país.

 


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