Procurador Federal, membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da União Brasileira de Escritores no Rio Grande do Norte e da Associação Sertão Raiz Seridó.
Num táxi, certa vez, voltando da Lapa para Copacabana, indagamos ao taxista sobre a onda, verdadeiro tsunami, de música sertaneja nas cercanias da famosa e histórica área boêmia. Ele confirmou a invasão, mas acrescentou, para o abrandamento da nossa preocupação: "O Samba não vai morrer nunca!".
De qualquer forma, voltei pensativo, refletindo sobre essa e outras representações culturais duradouras no Brasil. À tarde, eu havia visitado o grande mausoléu da ABL no Cemitério São João Batista e visto, naquela concretude, o quanto a entidade mais importante das Letras nacionais se perenizou no inconsciente dos brasileiros. Foi quando ouvi no rádio do táxi a notícia sobre a eleição de Fernanda Montenegro para a Academia Brasileira de Letras. Fiquei ainda mais envolvido com os meus pensamentos sobre os fenômenos culturais no país.
Confesso que a frase do taxista sobre o Samba, assomada à notícia da vitória da grande atriz e intelectual brasileira, ambas encheram o meu peito de novas esperanças.
Diferentemente de algumas opiniões em contrário, considero o nome de Fernanda Montenegro absolutamente autêntico e merecedor de uma cadeira na ABL, destacadamente pela sua profunda associação à grande dramaturgia brasileira. Além, muito além dos poucos livros que escreveu, Fernanda usou a voz e o corpo na apresentação e representação dos maiores escritores e dramaturgos do Brasil e do mundo. É um colosso dessa nobre arte de dizer as melhores palavras, da melhor maneira. Não é uma mera figura pública com notabilidade. Desde sempre foi e continua a ser uma colossal artista da palavra, fazendo-se ela própria de livro a ser visto, ouvido e lido de diversas formas.
Ainda fiquei mais feliz, quando ouvi no noticiário da manhã do dia seguinte ao da eleição da imortal, que ela considerou essencial compor a importante entidade dos escritores por ser algo que dura e permanece sólido num país em que tudo muda de tempos em tempos. Defendeu a tradição, renovando-a e valorizando-a, mas de forma autêntica e legítima.
Fernanda Montenegro, de certa forma, mostrou-nos que o Samba e as nossas principais referências culturais e artísticas não morrerão nunca, porque baseadas em valores estéticos firmes e em elementos de autenticidade e legitimidade. Fora disso, a esperança não seria a mesma.
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