Natural de Natal/RN, é professora e pesquisadora do IFRN, autora de poesia e contos de terror.
E não é que a coluna de hoje caiu numa sexta-feira (13)! Para um escritor, este dia rende um bom material de trabalho, mas para outras pessoas é um dia de má sorte. Tem até nome para quem sente fobia à data: parascavedecatriafobia ou frigatriscaidecafobia.
O nome que deu origem a “Friday” veio de uma deusa escandinava do Panteão nórdico, Freya, associada ao amor, à guerra, à fertilidade, porém demonizada pela igreja, quando as tribos nórdicas e alemãs se converteram ao cristianismo. Reza a lenda – na versão da Igreja Católica – que a deusa-bruxa passou a se reunir com outras 11 mais um demônio, totalizando 13, para rogar praga sobre os humanos em retaliação à debandada dos devotos da Velha Religião para a nova.
Não só os nórdicos como também outros povos possuem suas próprias narrativas e crenças em torno desta data na sua cultura. Os macedônios, por exemplo, não cortam cabelos e unhas em uma sexta-feira 13. Até a bolsa de valores opera em baixa em dias assim, pois os investidores ficam temerosos.
Nós, brasileiros, também temos uma memória associada à data. O Ato institucional N.5 (AI5) que amordaçou principalmente artistas, jornalistas e educadores com a censura foi decretado numa sexta-feira... 13, mais especificamente em 13 de dezembro de 1968.
Aproveitando o ensejo, trago uma história pessoal com esse número. No dia 13 de janeiro de 1995, eu e meus pais nos mudávamos da casa do Alecrim onde moramos por dois anos. Meu pai não deu muita atenção ao calendário ao destinar aquele dia para mudarmos de logradouro. Alguns itens quebraram durante a organização da mudança – uns diriam que foi distração ou falta de cuidado com os itens frágeis, outros talvez percebessem uma “energia estranha” circulando na casa, se estivessem lá naquele momento. Uma tia que se dispôs a ajudar discutiu com mamãe. Aquela mudança foi muito estranha e conturbada. E olhe que, de mudança eu entendo, pois meu pai era militar.
Quando já estávamos com tudo dentro do caminhão, uma vizinha nos abordou, perguntando se, durante a nossa permanência na casa, não havíamos ouvido ou visto algo estranho. Eu e minha irmã nos entreolhamos ao passo que a ficha ia caindo. Mesmo com a saúde de ferro, eu tinha constantes crises de garganta quando passamos a residir lá. Meu irmão, na época um pré-adolescente, nunca conseguiu dormir no quarto dele, arrastava o colchão até o nosso quarto e preferia ficar junto de mim e das nossas irmãs.
Em um claro instante, minha irmã alimentou a curiosidade da vizinha: “Sim, eu sempre acordava no meio da noite, ouvindo choro de criança.” Ao ouvir aquilo, a senhora informou um detalhe: não havia crianças de colo nas redondezas para justificar o vagido recorrente ouvido por ela. A conversa seguiu com trocas de informação sobre coisas que ocorreram, enquanto moramos lá.
De repente, ela soltou uma pergunta, colocando aquela conversa num rumo bem esquisito: “Vocês vieram morar nessa casa sem conhecer a história dela? Vou deixar um conselho de ouro: jamais façam isso. O lar é um lugar de descanso e paz. Está explicado o porquê de seu irmão não conseguia dormir naquele quarto. Espero que seu novo lar traga boas energias. Vocês foram boas vizinhas.”
Eu e minha irmã somos sensitivas. Enquanto aquela senhorinha relatava detalhes do que aconteceu naquela casa, nossos pelos ficaram de prontidão arrepiados, sobretudo com a brisa fria que circulou em volta de nós com aquelas revelações. Sentimos um alívio por saber que estávamos indo embora dali.
E se a curiosidade sobre os segredos dessa casa tocou você, vou deixar uma dica de leitura, pois essa história virou um conto – passado pela malha fina da ficção – e está no livro “A cruz da cabocla: aparições, terror e mistério.”
Em sua primeira parte, o livro traz algumas lendas urbanas que fazem parte da cultura potiguar, ambientados em situações históricas, retratando arquitetura de época e costumes. Na segunda parte, há mais narrativas de mistérios dando voltas pelo mundo.
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Livro: A cruz da cabocla: aparições, terror e mistério.
Autora: Kalina Paiva
Editora: CJA
Ano de publicação: 2025.
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