Andreia Braz

08/02/2022 11h33

 

Carta a uma amiga

Querida Lina Bel,

Você não pode imaginar a alegria que senti ao receber aquela sua mensagem hoje pela manhã. Mal abri os olhos e lá estava aquele texto delicioso que me fez rir sozinha e lembrar de tantos momentos que vivemos juntas. Tantas conversas, tantos perrengues na faculdade, tantas confissões, tantos sonhos, tantas gargalhadas, tantos abraços... Que delícia de mensagem! Que maravilha acordar com uma amiga dizendo que sonhou com a gente e que está com saudade de nos ouvir contar qualquer história e “gargalhar das presepadas da vida”, para usar suas próprias palavras. Quando li aquela mensagem, lembrei imediatamente da sua gargalhada, do seu riso frouxo e do seu jeito de menina. E lembrei de tantas coisas. Lembrei de tantas coisas que vivemos juntas, mas também pensei no quanto ainda temos por viver...

Adorei nossa conversa e fiquei feliz por saber que mesmo depois de tantos anos sem um contato mais próximo, nossa amizade permanece exatamente igual (como se tivéssemos nos encontrado há poucas horas) e não há constrangimento algum em falar sobre qualquer assunto, por mais espinhoso que ele seja. Foi o caso, por exemplo, de um relacionamento traumático que você vivenciou e deixou marcas profundas em sua alma. Sim, porque aquele homem que você um dia amou não soube valorizar a mulher incrível que você é, e, pior do que isso: lhe disse coisas que abalaram sua autoestima e a fizeram deixar de acreditar que um dia pudesse viver uma relação saudável novamente, um romance leve, tranquilo, daqueles “com sabor de fruta mordida”, como diz a canção de Cazuza. Mas não deixe de acreditar no amor. Continue sendo aquela menina do coração selvagem que tem pressa de viver, pois “o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual”, como nos lembra o mestre Belchior. Veja o que diz Drummond sobre esse encontro de almas que dá um colorido todo especial a nossa existência: 

 

O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor, sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido. 

 

E por falar em amor, foi tão bom compartilhar contigo o momento que estou vivendo, a alegria de estar vivendo um amor tranquilo, baseado no diálogo, no afeto e no respeito mútuo. Os versos de Drummond sintetizam esse encontro. Tenho certeza que você vai gostar de conhecer Lula (ele é tão divertido). Quem sabe, vamos visitá-la aí em João Pessoa qualquer dia desses ou você vem a Natal pra gente se divertir um pouco. Vai ser ótimo te levar no Samba, amiga. O Beco da Lama foi restaurado e está a coisa mais linda, você vai ver. Já imagino a gente tirando mil e uma fotos nos painéis do Beco e Lula dizendo: “vão fazer um book?” (risos). Ele sempre diz isso quando tiramos várias fotos juntos.

E a conversa foi longa (só paramos quando meu celular estava prestes a descarregar). Foram muitas pautas. Adorei saber que você continua escrevendo e espero que em breve possamos organizar um livro de poemas e/ou uma coletânea de contos. Será um orgulho editar seu livro e, quem sabe, até escrever um prefácio ou uma orelha. Seria uma honra poder falar do seu livro de estreia. Fiquei impressionada com a qualidade literária do texto que você me enviou enquanto conversávamos pelo WhatsApp, uma distopia que fala do empoderamento feminino e da força que é preciso ter para enfrentar os grilhões do patriarcado, uma triste metáfora da condição feminina e uma reflexão profunda sobre a dominação masculina e suas nefastas consequências. Não aguento mais tantas notícias de feminicídios, de relações abusivas, de violências diversas contra a mulher! Estou certa de que o conto “Algidez” é apenas um dos seus inúmeros escritos que estão na gaveta, madurando, esperando para serem devorados pelo leitor. Seu conto é uma história de dor, mas também de descobertas, ousadia, libertação. Um grito de alerta, como diria Gonzaguinha. Um texto arrebatador. Como lhe disse, certos aspectos da narrativa me fizeram lembrar o estilo de Valter Hugo Mãe, escritor português que é considerado o novo Saramago. Estou lendo o romance “Filho de Mil Homens” e quando deparei com seu conto foi impossível não associar algumas temáticas e personagens do seu texto à obra dele. É o primeiro livro dele que estou lendo e espero continuar mergulhando em suas narrativas. Tenho certeza que você também vai se apaixonar pelo estilo do autor de “A máquina de fazer espanhóis”. 

Encerro esta carta com a alegria de saber que tenho uma amiga, uma irmã, que mesmo distante não esqueceu do que vivemos e ainda sonha em viver coisas novas porque a vida é, também, esperança, renovação. Com a certeza do nosso breve reencontro, preencho meu coração com a alegria do teu riso e o calor do teu abraço.

 

Com afeto e saudade...

Até breve.

Beijos.

Andreia

 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).