Wellington Duarte

14/11/2020 08h53
 
Voto: um direito que pode melhorar, manter ou piorar sua vida?
 
 
Há três dias as eleições municipais no país e no Rio Grande do Norte teremos 521 candidatos a prefeito e nada menos que 9.504 candidatos a vereador em 167 municípios, um caleidoscópio maluco que joga o eleitor diante de uma loucura derivada de um sistema eleitoral que, mudado em 2015, criou um novo tipo de eleição, totalmente desconhecida ou pelo menos desconhecida de grande parte da população.
 
Num país sem tradição política, o voto, antes de ser uma oportunidade de melhorar a vida das comunidades, é um circo bisonho, em que candidatos de todos os matizes, muitos deles bizarros, se apresentam a um eleitorado que insiste em tratar esse momento mais como um chafurdo do que como uma janela de oportunidade.
 
O sufrágio universal, surgido nas jornadas da Revolução Francesa, em 1793, mas que só se efetivou, entre os homens adultos, depois das jornadas sangrentas de 1848 em Paris e arredores, que fez surgir o regime declaradamente burguês. O voto estabeleceu-se na Alemanha em 1867, antes da unificação, e nos Estados Unidos ensanguentado pela guerra civil e na conservadora Inglaterra. O sufrágio universal é, portanto, historicamente jovem.
 
A primeira nação a dar o voto às mulheres foi a Austrália, em 1902, mas controversamente só deu esse direito aos povos originários em 1962, porque até então a Lei australiana não os consideravam humanos. E a Suíça, o maior exemplo de democracia do mundo (sic) só deu voto às mulheres em 1971 e na teocrática Arábia Saudita, em 2011.
O voto universal, portanto, nunca foi algo naturalmente ligado aos regimes liberais. No BraZil foi na pequena Mossoró, com uma ação isolada de Celina Guimarães, que foi à justiça para ter o direito de votar e em 1932 Getúlio Vargas regulamenta o direito de voto feminino.
 
O voto que foi apropriado rapidamente pelas elites, produzindo sistemas eleitorais, como o nosso, em que o eleitor, quando sabe porque e em quem está votando, o faz de forma dispersa, por interesse próprio ou por afinidades nada republicanas, daí a “institucionalização” da compra de votos, que permanece incólume, com menos publicidade nos maiores centros urbanos, mas com a mais completa desfaçatez nos centros menores, revela o quanto é frágil esse aspecto da cidadania.
 
No BraZil onde historicamente o sistema partidário só existiu concretamente entre 1945 e 1964, e mesmo assim com o Partido Comunista do Brasil (PCB), sendo banido em 1947 por uma justiça eleitoral totalmente sintonizada com a guerra fria, apenas a partir de 1985 começa a se estruturar um sistema partidário em que, até hoje, predomina uma característica “não ideológica”, ou seja, a profusão de partidos que nada tem a ver com o pensamento político e sim com interesses individuais ou de grupos e onde os caudilhos partidários constroem seus interesses através dos partidos.
 
A Câmara Municipal de Natal que emergirá segunda-feira não promete muitas mudanças, mas a responsabilidade da mudança depende de você cidadão. 
Faça bom uso do seu voto.
 
Alea Jacta est!
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).