Renisse Ordine

17/09/2020 00h03
 
Resenha: ´Imigram meus pássaros`: Uma antologia poética da alma feminina 
 
 
O tema mulher e feminismo atualmente tem sido assunto em rodas literárias e em demais segmentos da sociedade. Mas por que esse comportamento é tão pertinente para a sociedade e ainda há grupos e pessoas que tentam desvalorizar tal debate? 
 
Porque a sociedade como um todo não é capaz de compreender o ser Mulher. Há muitos parâmetros sociais que medem todas as ações femininas, principalmente naquelas que ela deixa de atender às expectativas esperada. O debate tende a despertar a mentalidade de que a mulher está a cada vez mais à procura pelo seu lugar ao sol e com gana de se mostrar como uma pessoa que também tem suas vontades e limitações. 
 
Por séculos a mulher vem sendo considerada um modelo em uma vitrine, isto é, o importante é o visual, o exterior, e quando se trata do interior: ah, a quem interessa? 
Não é fácil nascer e ser mulher em qualquer parte do mundo. Tais descréditos ocasiona na própria mulher o medo de se conhecer e de se apropriar do que ela sente. Os números de feminicidios vêm aumentando consideravelmente no país, e isso nos leva novamente à mentalidade de que a mulher deve ser submissa. 
 
Diante de nossa secular realidade, a leitura da antologia poética de Luciana Nabuco, se faz altamente necessária para a vida, independente de gênero e raça. Como um autoconhecimento interior e uma experiência que todos não deveriam se deixar vivenciar, a fim de compreender esse nova etapa da evolução humana e da nova era: a da mulher dona de si.  
 
 Sendo a poetisa, mais uma voz feminina que mostra, sem medo, a pessoa que ela é, é muito significativo nessa luta que enfrentamos em nosso cotidiano. Ela também evidência a luta e realça o sentimento de que não podemos e não devemos ter medo de nos mostrar como gente de verdade e não um figurino do que muitos procuram enxergar. Que cada um se encontre em seu próprio espelho! 
 
“Atravesso meus sentimentos, as dores são meras cicatrizes, ocultas, fortes e belas. Em cada uma venci os meus desafios femininos, sou essa coloração suave e trágica que jamais perderá o caminho do próprio destino.” (Poema- Amanhecemos)
 
A poetisa Luciana vem com uma chave libertadora ao conduzir o seu olhar para o interior de seu corpo, pois ela caminha entre palavras por um caminho sinuoso, com o intuito de completar a sua travessia, visceralmente isenta dos obstáculos. 
 
È um convite inegável que não a acompanhemos nesse percurso, cada um na sua trilha, mas unidas neste sentimento de que a alma e o corpo devem falar a mesma língua diante de seu espelho. 
 
“Sou aquela que nasce pelo amor, outono de folhas amareladas, sou o lago manso e misterioso que atrai o luar. Sinto como a lava quente a me estremecer. Acontecimentos e predestinações. Agora e nunca estão dentro do meu ser.” (Poema- Canto de Oaxaca)
 
Luciana é a poesia feminina que ousa falar sobre o corpo, do amor carnal, sem vergonha de sentir e de expor que a mulher ama, sim, o corpo de um homem, e sim, deseja um amor tocável, companheiro que se posicione ao seu lado, e não em hierarquias e religiões. 
 
“O homem que eu amo me amedronta, pois ele não hesita em reverter o espelho e me fazer avançar para que eu mereça a mim mesma.” (Poema- Frida e Diego)
Ela é filha, é mãe, é esposa. Ela é mulher fixa no mundo, consciente de suas verdades e raízes e de sua arte.
 
Todas essas particulares fazem de “Imigram meus pássaros” ser mais do que um livro e uma leitura, ele é um chamado à peregrinação pela tua vida, uma descoberta/ redescoberta e valorização de quem você é até quem você deseja ver destacada no fim da última poesia. 
 

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