Wellington Duarte

28/07/2019 13h25
 
O Mito da “Universidade Esquerdista” na UFRN : minhas impressões
 
O anúncio de que há um movimento nacional de “professores universitários conservadores” para combater as “universidades esquerdistas” tomou muita gente de surpresa, inclusive os progressistas, novos e velhos, e uma parte do alunado, abismado com o fato de que “essa gente” irá retirar o cunho progressista das universidades, e falo especificamente da UFRN.
 
Esse mito de que a UFRN é um “campo progressista”, foi erguido pelos próprios professores de direita, que até a ascensão do novo fascismo, a partir de junho de 2013, se limitavam a tecer críticas individuais contra a esquerda, qualquer que fosse ela. E os progressistas assumiram esse mito, na medida em que reforçava a tese, que se mostrou absolutamente frágil, de que uma universidade progressista daria mais sustentação aos governos democrático-popular, que se instalara no país em 2003.
 
Eu quero dizer que a UFRN que eu conheci e conheço, NUNCA FOI PROGRESSISTA. Fui aluno, primeiro na Engenharia Química e depois nas Ciências Econômicas, entre 1984 a 1991 e, naquela época o corpo de professores era MAJORITARIAMENTE conservador, muitos deles apoiadores da Ditadura, muitos infiltrados do SNI (no meu Curso tinha) e havia um furioso anticomunismo.
 
O espaço das forças progressistas, nesse período concentrava-se num grupo que fundou a Associação dos Docentes da UFRN (ADURN), hoje Sindicato dos Professores da UFRN (ADURN-SINDICATO), e no movimento estudantil, onde o PCB, o PCdoB e o PT disputavam a hegemonia. Eu mesmo fui expulso de uma sala de aula, por um professor de Introdução a Economia, na época em que era da Engenharia Química, por estar vestindo uma camiseta com a estampa da foice e do martelo. E ouvi, inúmeras vezes “avisos” de professores que implicitamente nos ameaçavam por estarmos “apoiando os comunistas”.
 
Ao me tornar professor, em 1995, passei a ter a convicção do conservadorismo dos professores. No meu departamento, o de Economia, ser comunista ou era motivo de piadas ou de desprezo, e foram alguns professores mais progressistas, nenhum deles marxista, que deu um sopro de vida ao Departamento, senão até hoje os alunos estariam lendo um manual de Economia (o de Rossetti), uma obra absolutamente ultrapassada, mas que os conservadores admiravam.
 
Nos meus 23 anos como professor nunca vi essa tal “maioria” esquerdista e mesmo antigos focos de progressismo, localizados em setores das tecnológicas e das Exatas, tornaram-se conservadores e, em alguns casos, radicalizados ao extremismo esquerdista, sem nenhuma consequência prática. A chegada do PSOL, a partir de 2005 conseguiu, de fato, aglutinar muitos professores, mas a disputa tornou-se mais PSOL x PT, e em determinados departamentos, enquanto vicejava o conservadorismo na UFRN.
 
Então é preciso, inclusive para as forças progressistas, encarar que vivemos num campo conservador, que convivia entre altos e baixos com o campo que me enquadro, mas que com a ascensão do bolsonarismo, radicalizou-se e hoje em dia os bastiões conservadores, amparando-se no alheamento político dos professores, muito comum entre os mais novos, estão em MAIORIA ativa, cabendo ao campo progressista saber lidar com isso, ampliando as conversas com os setores mais liberais e até mesmo com os conservadores que respeitam a Constituição.
 
O que pode ser ruim para a UFRN e para os professores progressistas é, nesse momento, em que vivemos num REGIME DE EXCEÇÃO, radicalizar as posições e estabelecer parâmetros para o entendimento político.
 
Nesse sábado também acontecerá a primeira edição do FlipBeco, a Feira Literária do Beco da Lama, organizada pela SAMBA, Sociedade dos Amigos e Amigas do Beco da Lama e Adjacências. O evento começa às 12h e terá em sua programação mesas sobre literatura alternativa, literatura feminina negra no RN, literatura declamada e literatura LGBT. A partir das 19h também ocorrerá o "Forró no Beco" com show de "As Potyguaras".

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