Internacional
China critica tarifa de Trump contra o Brasil e acusa EUA de tentativa de intimidação
11/07/2025 14h17
Por: Hiago Luis
Foto: Reprodução/ g1
A escalada na tensão comercial entre os Estados Unidos e o Brasil após o anúncio de um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros por parte do presidente norte-americano Donald Trump, repercutiu internacionalmente. Nesta sexta-feira (11), um dia após o anúncio a China se manifestou publicamente contra a medida, classificando-a como um ato de coerção econômica e interferência em assuntos internos de outros países.
Durante entrevista coletiva, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, declarou que “tarifas não deveriam ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência”, ao ser questionada por jornalistas sobre a nova política tarifária dos EUA voltada ao Brasil. Ela também destacou que “a igualdade de soberania e a não-intervenção em assuntos domésticos são princípios importantes da Carta da ONU e normas básicas nas relações internacionais”.
A crítica de Pequim ocorre poucos dias após o fim da cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro, e revela uma crescente preocupação da China sobre o uso de tarifas econômicas como instrumento de política externa por parte dos EUA, especialmente contra países do bloco econômico que busca uma nova governança global multipolar.
Sem mencionar diretamente o Brasil, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, reforçou o tom da crítica e alertou que “as tarifas dos Estados Unidos minam a ordem do comércio internacional”.
"Chantagem Política"
O anúncio da tarifa de 50% foi feito por Trump na quarta-feira (9), por meio de uma carta pública endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No texto, o republicano alegou que a medida foi motivada não por critérios econômicos, mas como retaliação política ao julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), classificando o processo como “uma vergonha internacional”.
O posicionamento foi interpretado por analistas internacionais e autoridades brasileiras como uma tentativa clara de interferência nos assuntos internos do Brasil e uma ação coordenada de pressão política disfarçada de proteção comercial.
O presidente Lula reagiu duramente à carta de Trump e à tarifa imposta, afirmando que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que responderá “à altura”, inclusive com a possibilidade de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Retaliação?
A decisão de Trump pode ser vista como uma manobra para enfraquecer o protagonismo crescente do Brasil no cenário global, especialmente com o fortalecimento do BRICS e a ampliação de acordos internacionais fora da órbita de Washington. A própria China, que também enfrentou medidas similares de Trump, reagiu com tarifas contra os EUA no início do ano e, após meses de tensão, forçou uma renegociação, que reduziu os impostos em ambas as direções.
No caso do Brasil, os impactos são potencialmente severos. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, as exportações brasileiras aos EUA somaram mais de US$ 35 bilhões em 2024, com destaque para café, carne bovina, petróleo, suco de laranja, aeronaves e aço. O agronegócio, setor tradicionalmente aliado da direita no país, é um dos mais atingidos, o que inverte momentaneamente a posição política e coloca o governo Lula como defensor direto dos interesses desse segmento.
Bolsonarismo "em Xeque"
O uso político da tarifa também tem implicações internas. Trump buscou vincular a sanção comercial ao processo judicial contra Bolsonaro, o que foi prontamente aproveitado pelo ex-presidente e seus aliados para tentar se vitimizar e deslegitimar a Justiça brasileira. No entanto, a manobra pode sair pela culatra: ao condicionar o comércio exterior brasileiro à impunidade de Bolsonaro, o bolsonarismo é acusado de instrumentalizar a soberania nacional em benefício de um indivíduo.
Autor: Hiago Luis