Internacional
Tarifaço de Trump escancara disputa política e econômica e une Lula, empresários e a defesa da soberania brasileira
10/07/2025 15h28
Por: Hiago Luis
Foto: Foto: Reprodução / Redes Sociais
Em um movimento, que pode ser interpretado como retaliação política disfarçada de ação comercial, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, afetando setores estratégicos da economia nacional. A medida, marcada para entrar em vigor em 1º de agosto, chega acompanhada de um conteúdo político explícito: Trump condicionou o tarifaço à situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível e responde por tentativa de golpe no Supremo Tribunal Federal.
Na carta enviada ao presidente Lula, Trump chamou o julgamento de Bolsonaro de “vergonha internacional” e “caça às bruxas”, sugerindo que o Brasil estaria perseguindo politicamente um aliado dele na América Latina. A declaração foi recebida com perplexidade por autoridades brasileiras e analistas internacionais, por representar uma interferência direta nos assuntos internos de um país soberano.
Retaliação política travestida de medida econômica
Para a pesquisadora Lia Valls, da FGV/Ibre, o tarifaço vai além de protecionismo econômico e visa embaraçar o governo Lula. “É uma demonstração de força com claro viés político, que pode prejudicar seriamente as exportações brasileiras. O mais grave é que não há negociação possível com esse tipo de atitude imprevisível”, afirmou em entrevista ao InfoMoney.
Créditos: Antonio Augusto/STF
A movimentação de Trump também evidencia a estratégia bolsonarista de transformar o Brasil em campo de batalha de sua aliança ideológica com a extrema-direita global. Ao amarrar a imposição das tarifas à defesa de Bolsonaro, Trump fornece munição discursiva à família do ex-presidente e seus aliados, que tentam se vitimizar e transferir a culpa da crise para o governo atual.
Contudo, essa “cartada” acabou por reposicionar o campo progressista — historicamente associado à crítica ao capitalismo norte-americano — como o defensor direto da soberania nacional e da indústria brasileira. Ao se ver obrigado a reagir com firmeza ao ataque norte-americano, Lula fortalece o discurso de proteção ao Brasil, às empresas nacionais e aos trabalhadores brasileiros.
Lula e a defesa do Brasil
Logo após o anúncio de Trump, Lula reuniu ministros no Palácio do Planalto e definiu uma estratégia em três eixos. A primeira frente será a articulação com os setores da economia mais atingidos. O governo quer construir uma “linha de proteção” para exportadores afetados, principalmente dos setores do agronegócio, siderurgia e alimentos.
A segunda frente envolve a diplomacia. Os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) foram escalados para negociar diretamente com representantes do governo norte-americano e buscar apoio em fóruns multilaterais. Há, inclusive, a possibilidade de o Brasil acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC), sob o argumento de que o tarifaço viola regras do comércio internacional.
O terceiro eixo da reação será político. O governo já articula uma narrativa pública que expõe o uso da máquina do Estado norte-americano para favorecer um ex-presidente investigado por tentativa de golpe e que está inelegível até 2030. “Enquanto Lula taxa os super-ricos, Bolsonaro quer taxar o Brasil”, resumiu a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Setores mais afetados e o risco econômico
Os efeitos do tarifaço podem ser bilionários. Só as exportações de carne bovina para os EUA, por exemplo, movimentaram R$ 8 bilhões em 2024. A indústria de aeronaves — com a Embraer na linha de frente — também sofre risco direto, já que 63% das exportações vão para o mercado americano.
Na prática, a medida de Trump pode gerar aumento de preços para o consumidor americano e retração de investimentos no Brasil, num momento em que o país ampliava sua presença geopolítica no mundo.
Fortalecimento dos Brics
A retaliação norte-americana também vem em um momento estratégico: o Brasil, sob o governo Lula, tem desempenhado papel de destaque na reestruturação dos Brics, grupo que reúne países emergentes como China, Índia, Rússia e África do Sul. Com novas adesões e propostas de moeda própria, o bloco passou a incomodar os EUA e sua hegemonia econômica.
Créditos: Ricardo Stuckert / PR
Analistas interpretam o gesto de Trump como uma tentativa de frear o avanço da influência brasileira como um país capaz de unir e ajudar ampliar a economia de países emergentes no mundo. Ao mesmo tempo, vale lembrar que a medida de Trump também acontece a pouco mais de um ano antes das eleições presidenciais no Brasil.
"Casca de Banana": Bolsonarismo tenta usar o tarifaço para autopromoção
Do lado bolsonarista, a estratégia é se colocar como vítima. Aliados do ex-presidente tentam convencer o público de que o tarifaço é culpa de Lula e do ministro Alexandre de Moraes. No entanto, o "tiro pode estar saindo pela culatra", já que a vinculação direta feita por Trump ao julgamento de Bolsonaro, acaba por colocar o país como vítima de uma "chantagem" externa que visa beneficiar o ex-presidente.
Neste sentido, Bolsonaro acaba associado a uma medida que prejudica diretamente o agronegócio e a indústria brasileira — setores que tradicionalmente lhe davam apoio. A tentativa de autopromoção política se transforma em um ataque à economia nacional, colocando o bolsonarismo contra os interesses do próprio país.
Fonte: Com informações de G1, InfoMoney e Metropolis
Autor: Hiago Luis