Daniel Costa

Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.

CLUBE DOS PAIS

18/07/2025 16h32

 

"Ser pai é ser um torcedor". Marcelo  Rubens  Paiva soltou essa frase depois de  contar, no seu último  livro, sobre a experiência  de ser pai e acompanhar os filhos pelos torneios de futebol infantil em São Paulo.

 

Ele não  estava falando apenas de ser um desvairado torcedor  de futebol dian-te das façanhas ludopédicas dos garotos. Mas do lance de que pai e mãe sempre estão  a desejar o melhor  para os filhos, em todas as situações.

 

Dia desses minha filha precisou passar por um procedimento cirúrgico. E a tor-cida para que tudo corresse bem foi mais  intensa do que a de um fanático componente da Gaviões da Fiel em jogo de Derby Paulista. Nos corredores do hospital, na ala infan-til, um grupo de palhaços cantava e brincava para a alegria das crianças e também de seus pais, que participavam, com o coração na mão, torcendo pela recuperação  dos re-bentos.

 

Claro, tem alguns genitores que alopram e levam às barras  da sandice esse ne-gócio  de torcedor, sendo cada vez mais frequente a existência de vergonhosos arranca-rabos entre eles, quando os filhos disputam torneios escolares ou coisa  do gênero.

 

A verdade sem roupa é que o tipo de torcida pode variar a depender da idade e das cir-cunstâncias da vida. Mas, no final das contas, ela sempre significará o desejo para que a existência deles seja leve, para que tudo corra bem, para que encontrem “essa tal felici-dade”, de que falava Tim Maia.

 

“Mas de que adianta  torcer pelo futuro  dos filhos se ele não será  como imagi-namos?”, questionou Marcelo Rubens Paiva. Impossível se identificar a trilha que segui-rão. O mundo, esse mundo belo e terrível  é o mundo  deles. Não  o meu. Não mais o nosso. Parafraseando  uma história  do budismo, é  como quando um filho passa a galo-pe pelo pai, e este pergunta: "Aonde vai?". "Pergunte ao meu cavalo", responde o filho.

 

O caminho incontrolável da vida não  permite ninguém escolher ou visitar  o seu próprio destino, muito menos o dos filhos. O que resta mesmo, então, para quem faz parte do clube dos pais, é descarregar todo o peso dessa incerteza sonhando, vibrando e rezando na arquibancada do amor, como um louco e apaixonado torcedor de futebol.

 


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