Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.
"Ser pai é ser um torcedor". Marcelo Rubens Paiva soltou essa frase depois de contar, no seu último livro, sobre a experiência de ser pai e acompanhar os filhos pelos torneios de futebol infantil em São Paulo.
Ele não estava falando apenas de ser um desvairado torcedor de futebol dian-te das façanhas ludopédicas dos garotos. Mas do lance de que pai e mãe sempre estão a desejar o melhor para os filhos, em todas as situações.
Dia desses minha filha precisou passar por um procedimento cirúrgico. E a tor-cida para que tudo corresse bem foi mais intensa do que a de um fanático componente da Gaviões da Fiel em jogo de Derby Paulista. Nos corredores do hospital, na ala infan-til, um grupo de palhaços cantava e brincava para a alegria das crianças e também de seus pais, que participavam, com o coração na mão, torcendo pela recuperação dos re-bentos.
Claro, tem alguns genitores que alopram e levam às barras da sandice esse ne-gócio de torcedor, sendo cada vez mais frequente a existência de vergonhosos arranca-rabos entre eles, quando os filhos disputam torneios escolares ou coisa do gênero.
A verdade sem roupa é que o tipo de torcida pode variar a depender da idade e das cir-cunstâncias da vida. Mas, no final das contas, ela sempre significará o desejo para que a existência deles seja leve, para que tudo corra bem, para que encontrem “essa tal felici-dade”, de que falava Tim Maia.
“Mas de que adianta torcer pelo futuro dos filhos se ele não será como imagi-namos?”, questionou Marcelo Rubens Paiva. Impossível se identificar a trilha que segui-rão. O mundo, esse mundo belo e terrível é o mundo deles. Não o meu. Não mais o nosso. Parafraseando uma história do budismo, é como quando um filho passa a galo-pe pelo pai, e este pergunta: "Aonde vai?". "Pergunte ao meu cavalo", responde o filho.
O caminho incontrolável da vida não permite ninguém escolher ou visitar o seu próprio destino, muito menos o dos filhos. O que resta mesmo, então, para quem faz parte do clube dos pais, é descarregar todo o peso dessa incerteza sonhando, vibrando e rezando na arquibancada do amor, como um louco e apaixonado torcedor de futebol.
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