Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.
Nascer é como pular do vigésimo andar, e viver é o tempo entre a queda livre e a cabeça estraçalhada no meio-fio. Foi mais ou menos assim que Tonnessen, filósofo norueguês, tentou explicar o sentido da vida.
O destino de todos nós é a extinção. Daí que, para ele, existir pensando em qualquer outra coisa que não seja a própria morte é pura perda de tempo.
Essa pode ser uma verdade dolorosa. Talvez por isso estejamos o tempo inteiro tentando nos enganar. É verdade que alguns não suportam o peso da realidade e logo cortam os pulsos ou convulsionam em overdose. Como poetizou Caio Fernando de Abreu, se amanhã o dia for cinzento, apago todas as luzes e abro o gás, definitivamente.
Mas a maioria está por aí buscando saídas para tentar driblar essa verdade fundamental. Tem uma turma que vê cada vez mais no trabalho uma válvula de escape, como se o tempo de vida na terra fosse proporcional aos dias trabalhados.
Outros preferem o cinema, a literatura, a música ou a dança, todos bons lenitivos para o caos da existência, ainda que cada vez menos valorizados.
Já os mais pobres de imaginação buscam engabelar o tempo pensando não na própria morte, mas na morte dos outros, o que parece ser uma solução bastante em alta nos últimos verões.
Mas aí vem a pergunta de um milhão de dólares: qual então a melhor saída, se é que ela existe?
Tonnessen entende que a única coisa a se fazer é viver na passividade absoluta. Ou seja, não fazer nada. Apenas aguardar a hora em que a cabeça baterá no chão. O que, sejamos sinceros, parece coisa bastante exagerada. Tanto que Sven Lindqvist, um conhecido escritor sueco, acha que a brevidade da vida não deve paralisar Seu ninguém. O melhor é seguir uma trilha estóica e correr o caminho contrário: viver não de forma diluída, mas intensamente, fazendo tudo quanto for possível.
Algo parecido com o conselho que Quentin, personagem do romance O som e a fúria, recebeu do seu pai ao ganhar de presente um relógio: "Dou-lhe este relógio não para que se lembre do tempo, mas para que possa esquecê-lo de vez em quando por um momento e não gastar todo o seu pensar tentando conquistá-lo. Porque nenhuma batalha jamais é vencida (...)”.
Talvez essa rapaziada não esteja tão certa assim, e a melhor trilha não seja a da passividade ou da intensidade total. Quem sabe a via menos dolorosa esteja em procurar viver o essencial. O que significa dar importância ao que de fato vale a pena ser vivido. Mas, diante da brevidade da existência, quem de fato saberá?
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