Daniel Costa

Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.

QUEM DE FATO SABERÁ?

21/06/2025 06h19

 

Nascer é  como pular do vigésimo  andar, e viver é  o tempo entre a queda livre e a cabeça estraçalhada no meio-fio. Foi mais ou menos assim que Tonnessen,  filósofo norueguês, tentou explicar o sentido da vida.

 

O destino de todos nós é  a extinção. Daí que, para ele, existir pensando em qualquer  outra coisa que não seja a própria morte é pura perda de tempo.
Essa pode ser uma verdade dolorosa. Talvez por isso estejamos o tempo inteiro tentando nos enganar. É verdade que alguns não  suportam o peso da realidade  e logo cortam os pulsos ou convulsionam em overdose. Como poetizou Caio Fernando de Abreu, se amanhã o dia for cinzento, apago todas as luzes e abro o gás, definitivamente.

 

Mas a maioria está  por aí buscando saídas para tentar driblar essa verdade fundamental. Tem uma turma que vê cada vez mais no trabalho uma válvula de escape, como se o tempo de vida na terra fosse proporcional aos dias trabalhados.
Outros preferem  o cinema, a literatura, a música  ou a dança, todos bons lenitivos para o caos da existência, ainda que cada vez menos valorizados.

 

 

Já os mais pobres de imaginação buscam engabelar o tempo pensando não  na própria morte, mas na morte dos outros, o que parece ser uma solução bastante em alta nos últimos verões.

 

Mas aí  vem a  pergunta de um milhão de dólares: qual então a melhor saída, se é que ela existe?

 

Tonnessen entende que  a única  coisa  a se fazer é  viver na passividade absoluta. Ou seja, não  fazer nada. Apenas aguardar  a hora  em que  a cabeça baterá  no chão. O que, sejamos  sinceros, parece coisa bastante  exagerada. Tanto que Sven  Lindqvist, um conhecido escritor  sueco, acha  que  a brevidade da vida não  deve paralisar Seu ninguém. O melhor  é seguir uma trilha estóica e  correr o caminho contrário: viver não  de forma diluída, mas intensamente, fazendo tudo quanto  for possível.

 

Algo parecido  com o conselho  que Quentin, personagem  do romance  O som e a fúria, recebeu do seu pai ao ganhar de presente um relógio: "Dou-lhe este relógio não para que se lembre do tempo, mas para que possa esquecê-lo de vez em quando por um momento e não gastar todo o seu pensar tentando conquistá-lo. Porque nenhuma batalha jamais é vencida (...)”.

 

Talvez  essa rapaziada não esteja tão certa assim, e a melhor trilha não seja a da passividade ou da intensidade  total. Quem sabe a via menos dolorosa esteja em procurar viver o essencial. O que significa dar importância ao que de fato vale a pena ser vivido. Mas, diante da brevidade da existência, quem de fato saberá?

 

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).