Coluna da SPVA

A Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte (SPVARN), é uma associação literária e artística de utilidade pública, democrática, sem fins lucrativos, com 27 anos de existência e 68 associados de importante atuação no meio cultural do Estado. Nesta coluna, dominicalmente os leitores serão contemplados com autores e autoras de diversos estilos e gêneros literários.

Feito dia de domingo - A Voz Inquietante de Lima Barreto: Um Gênio à Margem da História Literária

15/06/2025 01h59

 

Prezados leitores,

 

Na nossa coluna de hoje, encontramos um texto que nos levará a conhecer um pouco mais sobre o escritor Lima Barrero. E quem nos enviou esse “chamingo” foi o autor Claudio Wagner - Professor- Cientista da Religião- Historiador- Poeta e Autor do livro Entre a Sombra da Razão e a Razão da Sombra- CJA,2016. Boa leitura! 

 

 

 

 

No panteão da literatura brasileira, poucos nomes ressoam com a pungência e a atualidade de Afonso Henriques de Lima Barreto. Nascido em 1881 no Rio de Janeiro e falecido precocemente em 1922, Barreto não foi apenas um escritor; foi um cronista mordaz, um observador perspicaz e um crítico implacável de sua época, cuja genialidade, muitas vezes, foi eclipsada pelo preconceito e pela incompreensão. Sua obra, vibrante e desconcertante, continua a ecoar, revelando as entranhas de um Brasil em formação e as cicatrizes de um povo.

A genialidade de Lima Barreto manifesta-se em sua capacidade singular de transcender as convenções literárias de seu tempo. Enquanto o academicismo e o estilo grandioso ditavam as regras, ele optou por uma prosa direta, coloquial e, por vezes, brutalmente sincera. Essa escolha estilística, frequentemente mal compreendida pelos críticos da época, é, paradoxalmente, a chave para sua atemporalidade. Ele falava a linguagem do povo, desmascarando a hipocrisia das elites e as contradições de uma sociedade que se modernizava a passos lentos.

Sua obra-prima, "Triste Fim de Policarpo Quaresma", é o testemunho mais eloquente dessa maestria. O romance, um épico da desilusão, narra a saga de um idealista ingênuo que tenta transformar o Brasil, apenas para se chocar com a dura realidade da corrupção e do descaso. Policarpo Quaresma, com sua paixão fervorosa pela pátria e sua inocência quase trágica, personifica a frustração de uma nação que, recém-saída da escravidão, ainda engatinhava em busca de sua identidade. A obra é um soco no estômago, um espelho implacável que reflete as promessas não cumpridas de um Brasil que se pretendia republicano e progressista.

Mas a genialidade de Barreto vai além da crítica política e social. Ele foi um pioneiro em dar voz a temas que, até então, eram varridos para debaixo do tapete. O racismo estrutural, por exemplo, é uma chaga social que ele expôs com rara coragem e profundidade. Como homem negro em uma sociedade excludente, suas próprias experiências de marginalização permearam sua escrita, conferindo-lhe uma autenticidade visceral. Ele não apenas descrevia o preconceito; ele o dissecava, revelando suas raízes e suas consequências devastadoras na vida dos indivíduos.

A saúde mental e as internações psiquiátricas do próprio autor também se tornaram matéria-prima para sua reflexão literária. Em seus textos, a linha entre a sanidade e a loucura é constantemente questionada, provocando o leitor a repensar os parâmetros que definem a "normalidade". Essa perspectiva, muitas vezes dolorosa e autobiográfica, adicionou uma camada de complexidade e empatia à sua obra, transformando suas dores em arte que ressoa até hoje.

Lima Barreto não foi apenas um escritor; foi uma bússola moral em tempos turbulentos. Sua voz, antes marginalizada e incompreendida, hoje se impõe com a força de um farol, iluminando as sombras de nossa história e provocando-nos um olhar mais crítico sobre o presente. Sua genialidade reside em sua capacidade de ser atemporal, um autor que, ao falar de seu tempo, fala também do nosso, perpetuando um legado de lucidez e coragem que a literatura brasileira tem o dever de celebrar.

 

 

Para acompanhar  a produção literária do escritor Claudio Wagner é só entrar em contato conosco através de nossas conexões, redes sociais.

 

ATÉ BREVE!

 

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Revisão: José de Castro

Coordenação da coluna no âmbito da SPVA/RN: Adélia Costa

 


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